Folha de S. Paulo


ANNE HIDALGO, EDUARDO PAES e MICHAEL BLOOMBERG

Por cidades mais limpas e amigáveis

O Acordo de Paris de Mudanças Climáticas, já assinado por mais de 175 países, deve boa parte de seu sucesso ao reconhecimento, por parte dos governos nacionais, do progresso feito pelas cidades na redução das emissões de carbono.

Hoje, quando líderes mundiais se reúnem em Washington para discutir como alcançar as metas estabelecidas em Paris, devem se concentrar em como ajudar as cidades a reduzir ainda mais essas emissões.

Atualmente, mais da metade da população mundial vive em grandes centros urbanos. Todos os dias, as cidades do mundo crescem cerca de 60 km² -uma área equivalente ao distrito de Manhattan, em Nova York.

A forma como esse crescimento se dará nos próximos anos determinará se conseguiremos evitar os piores impactos das alterações climáticas. Também terá grandes implicações na economia e na saúde pública.

Planejar as cidades em torno de transportes de massa acessíveis expande as oportunidades econômicas e, ao mesmo tempo, limpa o ar que respiramos. Edifícios inteligentes, dotados de tecnologia para racionalizar o consumo de energia, e o uso da terra poupam os recursos naturais e protegem seus habitantes de eventos climáticos extremos.

Os governos nacionais podem fazer muito para ajudar a aceleração desse processo. Esse também é um objetivo central da Coligação para Transições Urbanas, uma nova iniciativa da comissão global New Climate Economy lançada na semana passada em Washington.

A coligação, composta por líderes financeiros e empresariais mundiais, autoridades municipais e especialistas em planejamento urbano, irá ajudar a alcançar as metas climáticas acordadas em Paris.
Proporá, entre outros pontos, ênfase maior no planejamento econômico nacional, na melhora do acesso ao financiamento de infraestruturas de baixo carbono, na defesa das vantagens econômicas de
um crescimento urbano amigável ao clima, especialmente nos países em desenvolvimento.

Ações para reduzir as emissões de carbono devem gerar uma economia de US$ 17 trilhões (R$ 59 trilhões) até 2050. Esses esforços salvarão vidas, pois a poluição do ar contribui para mais de 10 mil mortes prematuras a cada dia.

O transporte de massa pode ajudar a reduzir acidentes de trânsito e também aumentar a atividade econômica, limitando os congestionamentos. E tornar algumas áreas mais amigáveis aos pedestres, tais como as margens de um rio em Paris no verão, pode melhorar a qualidade de vida dos moradores.

Ter cidades mais fortes é do interesse de todas as nações -afinal, elas representam 85% do PIB global e são fortes indutoras do processo tecnológico e inovação política.

Muitos governos reconhecem isso e já estão adotando medidas para integrar melhor as cidades ao planejamento econômico nacional. Ainda assim, muito mais precisa ser feito. O relógio está correndo.

Dando às metrópoles o poder de agir e inserção no centro das estratégias econômicas nacionais, poderemos proteger o nosso planeta, ao mesmo tempo em que construiremos um futuro melhor para o
crescente número de pessoas que chamam as cidades de lar.

ANNE HIDALGO é prefeita de Paris

EDUARDO PAES é prefeito do Rio de Janeiro

MICHAEL BLOOMBERG empresário e ex-prefeito de Nova York (2002-2013), é enviado especial para Cidades e Mudanças Climáticas da ONU (Organização das Nações Unidas)

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