Folha de S. Paulo


Lista de lições

A queda expressiva da USP na classificação anual de universidades com melhor reputação no mundo, passando da faixa 51-60 para a 91-100 é uma notícia bastante ruim. O resultado, porém, traz lições que o país não deveria ignorar se quiser se colocar melhor na arena mundial da educação e da produção de conhecimento.

Em que pese seu retrocesso, deve-se observar que não é desprezível que a USP se mantenha desde 2012 entre as cem mais reputadas nessa lista do grupo THE (Times Higher Education). Com a exclusão da Universidade Autônoma do México neste ano, a brasileira figura como a única entidade latino-americana na relação.

Cumpre lembrar, ademais, que esse ranking mede sobretudo a percepção de acadêmicos a respeito da reputação de universidades. Pouco mais de 10 mil pesquisadores de prestígio, oriundos de 133 países, apontaram as 15 instituições por eles consideradas as melhores em ensino e pesquisa.

Não faz feio uma instituição que, como a USP, se encontra no mesmo patamar de centros tradicionalíssimos como as francesas École Polytechnique e a Universidade Paris 1 Panthéon-Sorbonne.

Há muito a avançar, porém. Na Europa e na Ásia, o movimento de internacionalização acelerou-se nos últimos anos. Investe-se, por exemplo, nas disciplinas ministradas em inglês, na atração de professores estrangeiros –por meio de melhores salários e condições de trabalho– e na inserção em redes mundiais de pesquisa.

No ranking THE, as duas principais universidades da China já alcançaram a 18ª e a 21ª posição. Outros três centros do país passaram a integrar a lista neste ano. No total, a Ásia passou de 10 para 17 instituições na classificação.

Enquanto isso, USP e outras universidades brasileiras se mantêm presas a um modelo engessado, que não reconhece o mérito nem cobra aquele que, acomodado com a estabilidade do emprego público, é pouco produtivo, como apontou a neurocientista e colunista da Folha Suzana Herculano-Houzel, em entrevista a este jornal.

Essa é, aliás, a principal razão citada pela pesquisadora para sua decisão, anunciada nesta semana, de se mudar da UFRJ para uma universidade norte-americana.

Acrescentem-se ainda amarras burocráticas para a compra de equipamentos e insumos para pesquisas, bem como a quase ausência de disciplinas em inglês.

Sem modificar esses parâmetros, não será surpresa se a USP continuar a regredir neste e em outros rankings nos próximos anos.

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