A sede da ONU foi palco sexta-feira (22) de um fato incomum: nunca antes 175 países haviam assinado um tratado no mesmo dia. A distinção coube ao Acordo de Paris, adotado em dezembro para enfrentar a mudança climática mundial.
O número soa expressivo, mais ainda porque corresponde a nações que emitem 93% dos gases que, como o dióxido de carbono (CO2), agravam o efeito estufa. Apesar disso, constitui antes demonstração de boas intenções do que passos concretos para limitar o aquecimento global a 2°C ou, se possível, a 1,5° C, como indica o acordo.
O Brasil figura entre as nações signatárias. A presidente Dilma Rousseff (PT), em Nova York, pouco adiantou sobre ações futuras nesse campo. Limitou-se a reiterar o papel do Brasil nas negociações, embalado no prestígio adquirido com a redução de emissões. Pelo menos não se arriscou a desviar-se demais do tema e discorrer sobre o "golpe" que acredita sofrer.
Há ainda um longo caminho pela frente em relação ao tratado aprovado em Paris. Para entrar em vigor, o texto precisa ser ratificado –adotado como lei pelos respectivos Parlamentos– por 55 de seus integrantes, que em conjunto respondam por 55% das emissões globais.
Esse quórum mínimo contorna a improbabilidade de o Congresso dos EUA vir a ratificar o acordo, dada a resistência ideológica da maioria dos republicanos. De todo modo, o presidente americano, Barack Obama, pôs em prática várias medidas para conter emissões à revelia dos parlamentares.
A China, hoje o maior poluidor climático do planeta, também progrediu. Criou metas nacionais para conter o CO2, está fechando minas de carvão e investe pesadamente em energias renováveis.
O Acordo de Paris, porém, contém poucas provisões mandatórias e não estipula ações para garantir que a meta de 2° C seja cumprida.
Em paralelo, acumulam-se evidências preocupantes. O ano de 2015 foi o mais quente já registrado, e 2016 não fica atrás. Cada um dos 11 meses recentes teve a temperatura média global mais alta, na comparação com igual período. Março foi o mais escaldante entre todos os 1.635 meses desde 1880.
Tudo isso imprime um sentido de urgência aos governos, que no entanto encontram dificuldade para para passar das intenções aos atos.