Folha de S. Paulo


Infâmia terrorista

A Nigéria convive desde 2009 com uma das mais mortíferas e odiosas manifestações do extremismo islâmico. Segundo o índice global de terrorismo, em 2014 (último dado disponível) a milícia radical Boko Haram matou 6.700 pessoas, superando o Estado Islâmico. No total, 20 mil pessoas já teriam sido assassinadas pelo grupo.

Com pretensões territoriais, a facção passou a controlar uma área equivalente à da Bélgica, obrigando quase 2 milhões de nigerianos a fugir de suas casas.

Um relatório publicado pela Unicef (braço da ONU para a infância) nesta terça-feira (12) acrescentou mais uma camada de abjeção às ações da milícia. Segundo o documento, tornou-se prática frequente a utilização de crianças para a realização de atentados.

Os menores em geral são deixados em lugares públicos, muitas vezes sob o efeito de drogas, com pacotes contendo bombas, as quais são detonadas à distância. Em 2015, 44 meninos e meninas foram usados para tais crimes; o mais jovem de apenas 8 anos de idade.

Essa ampliação acompanhou um aumento de ataques suicidas por parte do Boko Haram. De acordo com o documento, o número desses atentados passou de 32 em 2014 para 151 no ano passado.

A multiplicação dos crimes seria, a exemplo do que ocorre com a facção Estado Islâmico, uma maneira de amplificar o terror no momento em que a milícia se enfraquece.

Com a ascensão do novo presidente do país, Muhammadu Buhari, eleito com a promessa de dar fim à milícia, as coisas começaram a mudar. Montou-se uma operação envolvendo forças da Nigéria e dos vizinhos Chade, Camarões e Níger. França e EUA colaboraram com treinamento e drones.

Em pouco tempo, o grupo sofreu enormes perdas territoriais e teve fontes financeiras cortadas.

A vitória sobre a facção, porém, dificilmente se dará apenas pela via militar. O Boko Haram age no isolado nordeste da Nigéria, região de maioria muçulmana onde mais de 70% da população vive na pobreza. A extrema miséria e a falta de perspectiva facilitam o recrutamento da milícia radical.

A reconstrução da região e o seu posterior desenvolvimento são tarefas que o novo governo nigeriano não pode negligenciar se quiser acabar com a infâmia terrorista.

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