Folha de S. Paulo


Henry Wender

Planos para reduzir acidentes aéreos

Os acidentes com aeronaves de pequeno porte são comuns no Brasil, embora muitas vezes passem despercebidos aos nossos olhos. Em 2015, tivemos um a cada três dias; em 2016, alguns já são investigados.

O assunto é do interesse de todos, pois aeronaves estão se despedaçando sobre centros urbanos. No dia 19, um avião monomotor caiu em cima de uma casa, na zona norte de São Paulo. Entre os sete mortos, estavam Roger Agnelli, ex-presidente da Vale, sua mulher e seus dois filhos.

Precisamos nos mobilizar para diminuir a quantidade de acidentes aéreos no país. A primeira atitude é nos conscientizarmos desta realidade. Segundo a Aeronáutica, em 2015 tivemos 123 acidentes aéreos com aviões menores e 57 mortos.

O problema é que, quando alguém faz uma afirmação alarmante sobre a aviação, imediatamente surgem dados estatísticos oficiais para suavizar a realidade, afirmando que não houve acidentes recentes na aviação comercial, aquela que envolve as grandes empresas aéreas. Mas o fato é que muitos aviões estão caindo.

O Panorama Estatístico da Aviação Civil Brasileira diz que um terço dos fatores que mais contribuem para acidentes no Brasil são: julgamento de pilotagem, supervisão gerencial e planejamento de voo, ou seja, são as falhas humanas.

Dessa forma, a segunda atitude é envolver mais pessoas nas ações de fiscalização e prevenção. Prevenir não deve ser responsabilidade exclusiva do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa); fiscalizar não pode ser atribuição somente da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac).

Os setores que atuam direta ou indiretamente na aviação precisam participar mais. Tripulantes e passageiros possuem um papel importante nesse processo: devem denunciar todo fato que julgarem inadequado em um voo, por mais simples que seja. Existem ferramentas para isso, inclusive preservando o anonimato dos denunciantes.

A terceira atitude envolve a mídia. Em janeiro, o Cenipa reuniu jornalistas em Brasília para divulgar o relatório final sobre o acidente aéreo que vitimou Eduardo Campos, candidato à Presidência do Brasil, em 2014. Diante do documento de 170 páginas, a imprensa se prendeu aos questionamentos básicos que norteiam a apuração jornalística, ou seja, queria saber o que aconteceu e quem era o culpado.

Sob esse ângulo, as respostas do órgão foram decepcionantes, porque não é possível saber o que realmente ocorreu. E o Cenipa, por força de acordos internacionais, segue um protocolo de trabalho visando unicamente a prevenção, sem buscar culpados.

Entretanto, apresentou algo raro no Brasil quando ocorrem desastres em geral: mostrou o que devemos fazer para que acidentes desse tipo não se repitam. Ou seja, a informação mais relevante que o Cenipa ofereceu não mereceu destaque na mídia em geral, nem mesmo na mídia especializada em aviação.

Nos próximos meses deverão ser divulgados relatórios finais de acidentes aéreos com relevante interesse público, como o que provocou a morte de Thomaz Rodrigues Alckmin, filho do governador de São Paulo. Uma cobertura jornalística mais abrangente desses infortúnios poderá representar um importante passo para melhorar a segurança de voo em nosso país.

HENRY WENDER, coronel aviador, foi vice-chefe de comunicação e porta-voz da Aeronáutica

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