Folha de S. Paulo


ROGERIO CHEQUER

Um dia que valerá por anos

Com 6,5 milhões de manifestantes pelo Brasil, o dia 13 de março de 2016 entra para a história como a maior manifestação política e social da humanidade. Por qualquer critério que quisermos avaliar -número de participantes, número de cidades, convites ou confirmações no Facebook-, um país nunca reuniu tanta gente nas ruas.

Crianças e idosos, ricos e pobres, nortistas e sulistas saíram às ruas para pedir o fim da impunidade, o fim da farra, o fim de um governo escancaradamente corrupto. E o fizeram de forma surpreendente.

Em um país acostumado a manifestações políticas ideologicamente radicais, pouco conhecidas pelo apreço à organização, à disciplina e ao respeito às leis, pode parecer surpreendente que cinco manifestações nacionais reunindo mais de 10 milhões de pessoas tenham um saldo como as nossas: nem uma única vitrine quebrada.

Os brasileiros, mesmo revoltados, deram um exemplo de cidadania, ordem e civilidade. Isso mostra que há formas pacíficas de se unir uma população em torno de uma causa comum. A imensa maioria dos brasileiros sabe conjugar indignação, protesto e respeito. Novas tecnologias, planejamento e pessoas com valores republicanos muito bem definidos estão levando o Brasil a inovar no campo da participação política. E este é apenas o
começo.

Mas o dia 13 de março também traz uma peculiaridade: um novo recorde bizarro do PT. O mesmo partido que foi (e ainda é) protagonista do maior escândalo de corrupção da história da humanidade passa agora a deter também o recorde de ser o inspirador da maior manifestação de todos os tempos. Bicampeão mundial, em corrupção e revolta popular.

E ainda há quem tenha a cara de pau de afirmar que o impeachment não é legítimo. O dia 13 de março escancara a permanência insistente de uma minoria incompetente, pendurada no abismo, agarrada ao poder em corda prestes a se romper.

Os recordes deste dia, no entanto, não são suficientes para mudar o Brasil de forma sustentável. A mudança do país começa com o impeachment de Dilma Rousseff, mas continua com a renovação política, com o fim da impunidade, com o fortalecimento das instituições democráticas, objetivos de longo prazo do Movimento Vem Pra Rua.

Aqui entra novamente o dia 13 de março, consolidando o segundo pilar do impeachment, o apoio popular, somado ao crime de responsabilidade, já configurado.

Resta agora o terceiro pilar, o andamento político do processo. Essa tarefa cabe aos parlamentares do Congresso. O impeachment, desejo do povo, só pode ser implementado por eles. E reunir 342 votos, num governo ainda aparelhado, não é tarefa trivial.

Aqui, o obstáculo. O povo está revoltado de forma generalizada com a classe política, e não faltam motivos para tal. Mas, sem os políticos, nada acontece.

Para conciliar os dois lados, ajuda reconhecer um objetivo comum às duas partes, nesse momento decisivo: a queda constitucional do governo atual e a transição para um governo que consiga recuperar nossa trajetória de crescimento até as próximas eleições presidenciais.

Com essa agenda comum, sociedade e políticos devem, agora, após a confirmação do desejo popular, seguir juntos rumo ao impeachment e à transição. Aos políticos, a sociedade deve oferecer apoio, particularmente ao grupo que está tomando a frente do processo, para que possam formar maioria. À sociedade, os políticos devem oferecer sua luta incondicional, resgatando os objetivos de representatividade descritos em suas funções.

Na fase final, e derradeira, deste triste capítulo da história do Brasil, só o trabalho conjunto e coordenado entre sociedade e políticos pode nos tirar desta lama de escárnio, incompetência e sofrimento.

E, aí sim, o dia 13 de março será lembrado não apenas como um recorde, mas como o dia no qual o povo brasileiro retomou a esperança no futuro que merece.

ROGERIO CHEQUER, 47, é empresário, líder e porta-voz do Movimento Vem Pra Rua*

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