Folha de S. Paulo


editorial

Resgatar a imagem

O futebol mundial conhece um momento de mudanças dentro e fora dos gramados. No último sábado (5), poucos dias após a eleição do novo presidente da Fifa e a adoção de uma série de regras moralizadoras pela entidade, aprovou-se a realização de testes com imagens de vídeo para auxiliar os árbitros em lances duvidosos.

A decisão tomada pela Ifab (International Football Association Board), órgão que regulamenta as regras do jogo, pode representar a queda de um tabu futebolístico.

De modo anacrônico, o esporte resiste há anos a implementar um recurso já utilizado com sucesso no basquete, no tênis, no vôlei e no hóquei, por exemplo.

O uso do vídeo será permitido apenas em lances capitais, como nos casos em que houver dúvida sobre gol ou marcação de um pênalti, além de situações envolvendo atitudes violentas.

Os testes deverão começar até a metade do ano que vem. Se a medida for implementada em definitivo, deverá aumentar a lisura dos jogos e diminuir os equívocos que prejudicam o futebol como espetáculo e empreendimento.

A CBF (Confederação Brasileira de Futebol), uma das entidades mais atuantes na defesa da iniciativa modernizadora, almeja pô-la em prática já no Campeonato Brasileiro deste ano, em agosto.

Pretende, com isso, dar resposta a dirigentes insatisfeitos com os recorrentes erros de arbitragem no torneio do ano passado. Procura, ademais, atingir outro objetivo: resgatar um pouco da própria imagem, combalida pelos recentes escândalos de corrupção.

Com esse intuito, a CBF criou no mês passado um comitê de reformas. Seus 17 integrantes têm a missão de propor alterações em temas que vão de seu Código de Ética ao calendário, passando pelo estatuto da entidade e pelo desenvolvimento do futebol feminino. As propostas devem ser apresentadas até o final de 2016.

Tendo seus três últimos presidentes acusados pela Justiça americana de participação em um esquema de propinas e lavagem de dinheiro, à CBF só resta se mexer.

Há, entretanto, justificadas dúvidas sobre a independência de um comitê de reformas composto majoritariamente de cartolas, presidentes de federações estaduais e pessoas ligadas à própria CBF.

Diante da necessidade de modernizar o futebol brasileiro e aumentar a transparência de clubes e entidades desportivas, será uma pena se a iniciativa for somente, como se diz, para inglês ver.

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