Folha de S. Paulo


EDITORIAL

Esperança iraniana

Iranianos escolheram no final de fevereiro seus representantes no Parlamento e na Assembleia dos Especialistas, órgão consultivo encarregado de supervisar e, eventualmente, escolher o líder supremo, máxima autoridade na república islâmica.

A primeira eleição desde o acordo nuclear assinado com as potências globais confirmou que centristas aliados do presidente Hasan Rowhani são a força dominante no intrincado tabuleiro iraniano.

Apesar de o regime ter vetado mais da metade dos candidatos, reformistas e pragmáticos favoráveis ao tratado ficaram com ao menos 158 das 290 cadeiras do Parlamento unicameral. Ultraconservadores recuaram de 112 para 68 assentos. O restante se divide entre independentes e minorias.

Matizes ideológicos são mais difusos na Assembleia dos Especialistas, para a qual concorrem mais juristas e teólogos do que políticos. Conhecidos extremistas do país, contudo, não conseguiram se eleger. O mais sufragado dos 88 novos membros da Assembleia foi o ex-presidente Hashemi Rafsanjani, próximo de Rowhani.

Como em qualquer país, a população votou com a cabeça em preocupações domésticas, a começar pela economia. Os iranianos, porém, entendem que seu cotidiano depende da relação com o mundo.

Foi a promessa de normalizar a política externa para melhorar condições de vida que levou Rowhani a triunfar em 2013, após oito anos da tenebrosa presidência de Mahmoud Ahmadinejad.

Os avanços são notáveis. O acordo nuclear não só reduziu tensões com o Ocidente como permitiu levantar sanções e repatriar bilhões de dólares no exterior.

A decepção fica por conta das liberdades individuais, pelas quais Rowhani parece ter desistido de lutar para não aumentar atritos com os radicais que controlam a Justiça. A vitória eleitoral dos centristas ressuscita o otimismo ao enfraquecer conservadores que usavam o Parlamento para emperrar a agenda do Executivo.

Não se deve esperar, de todo modo, que o fortalecimento dos pragmáticos leve Teerã a abandonar o ditador da Síria, Bashar al-Assad, apaziguar tensões com a Arábia Saudita ou reconhecer Israel. São posições de princípio que contam com respaldo interno.

Por fim, o resultado das eleições deu razão a Barack Obama e outros líderes que apostaram na diplomacia para fortalecer moderados.

Preocupa, porém, o pós-Obama. Nenhum dos candidatos à Casa Branca se comprometeu a prosseguir o engajamento com Teerã.


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