Folha de S. Paulo


editorial

Rinha paulistana

Na terminologia militar, as "proxy war", ou guerras por procuração, indicam conflitos entre dois países que, no entanto, não chegam a se enfrentar diretamente. Eram bastante comuns no período da Guerra Fria, quando Estados Unidos e União Soviética, evitando um temerário confronto aberto, apoiavam lados opostos em diversos campos de batalha.

Algo dessa lógica permeia a eleição interna que definirá quem, dentro do PSDB paulistano, disputará a Prefeitura de São Paulo.

Os dois personagens que passaram ao segundo turno das prévias –o empresário João Doria Jr., com 43% dos votos, e o vereador Andrea Matarazzo, com 33%– espelham interesses maiores, por assim dizer, dentro da agremiação.

João Doria conta com o apoio agora declarado de Geraldo Alckmin. De olho na corrida presidencial de 2018, o governador considera fundamental eleger um aliado na capital mais rica e populosa do país. Não seria exagero dizer que o tucano, talvez invejando o ex-presidente Lula nesse aspecto, quer fazer seu próprio poste.

Matarazzo, por sua vez, tem a bênção do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e dos senadores Aloysio Nunes e José Serra –este mantém o Palácio do Planalto na sua lista de desejos.

Nada disso é inédito, naturalmente; quando se trata de PSDB, "cúpula partidária" e "divergências internas" soam quase como sinônimos. Desta vez, contudo, pelo menos dois aspectos chamam a atenção de modo especial.

É digno de nota que, mesmo em uma metrópole como São Paulo, a máquina administrativa exerça tamanha influência –pode-se imaginar o que ocorre noutras paragens.

Pesquisas Datafolha mostram um Alckmin impopular como nunca e, ademais, malposicionado nas simulações de corrida presidencial. Ainda assim, transformou Doria, um paraquedista na cena política, em favorito nas prévias.

Surpreende, além disso, o nível de animosidade entre os grupos do PSDB. Cenas de pancadaria, ataques a urnas e indícios de compra de votos não só denotam um comportamento que os tucanos adorariam condenar em seus rivais mas também expõem uma fratura sem precedentes no partido.

Seja porque os rancores se acumularam por tempo demais, seja porque a Presidência se apresenta ao alcance das mãos, os principais nomes do PSDB parecem dispostos inclusive a enfrentar uma guerra aberta. No caso de Geraldo Alckmin, em particular, seria a senha para trocar de legenda.

O quadro partidário brasileiro, como consequência da Operação Lava Jato, dificilmente chegaria a 2018 sem alterações em relação às últimas disputas, e os caciques tucanos sem dúvida podem contribuir com novidades. O lamentável é que usem a cidade de São Paulo como campo para suas batalhas pessoais.

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