Folha de S. Paulo


LAURA VIANA, LUÍZE TAVARES e DANIEL GUIMARÃES

Por uma vida sem catracas

O Movimento Passe Livre lamenta a forma desrespeitosa empregada pelo prefeito Fernando Haddad e pelo governador Geraldo Alckmin ao responderem às reivindicações legítimas que vêm das ruas.

É ultrajante que Haddad compare uma viagem à Disney com o transporte coletivo, questão chave para a vida na cidade que, depois de muita luta, foi finalmente inserida na Constituição como direito social.

Já o governador, responsável pelo aumento da tarifa na EMTU, Metrô e CPTM, nem ao menos pronunciou-se sobre as propostas dos manifestantes, limitando-se a elogiar o trabalho da Secretaria de Segurança Pública e da Polícia Militar, que sabem apenas responder às manifestações com bombas e balas.

Nada disso nos surpreende. O mesmo prefeito que diz priorizar a mobilidade impede a circulação de mais de 400 mil pessoas com esse novo aumento. No total, há 37 milhões de excluídos dos transportes públicos nas cidades brasileiras por não poderem pagar as tarifas, segundo o Ipea.

O mesmo governador que diz ter como prioridade o metrô de São Paulo sempre promete estações nunca entregues, além de enfrentar denúncias de formação de cartéis acusados de fraudar licitações de trens em sua gestão.

O que defendemos é a revogação do aumento, mas o prefeito parece ignorar isso, concentrando-se em criticar a tarifa zero para desviar a pressão, enquanto o governador se cala. Implantar a tarifa zero no transporte urbano vai contra a política de exclusão praticada pelos governos de Haddad e Alckmin.

Sobretudo, a ideia de tarifa zero inverte a lógica aplicada há anos no Brasil, que beneficia somente o transporte individual, em detrimento do uso coletivo do espaço público.

Diferentemente do que argumenta Haddad, não se gastaria tanto com a tarifa zero. O custo do transporte público divulgado pelo prefeito está inflado pelos lucros desproporcionais dos empresários, que representam mais do que o dobro do acordado em outras concessões públicas, segundo auditoria de 2013.

O transporte é negligenciado pelo governo do Estado de São Paulo por meio das privatizações do metrô e da falta de investimento no transporte sobre trilhos.

Com a tarifa zero, economizaríamos todo o valor gasto no sistema de cobrança do transporte. Paulo Sandroni, ex-presidente da antiga CMTC (Companhia Municipal de Transportes Coletivos), apontou que cerca de 20% do custo total do transporte coletivo é direcionado apenas para manter a cobrança das passagens.

Fazendo as contas, por volta de R$ 1,5 bilhão poderiam ser direcionados justamente para ajudar a oferecer um transporte gratuito e de qualidade para toda a população.

As declarações e ações de Alckmin e Haddad são um desastre. Não é necessário ser um mágico para implementar a tarifa zero, como diz o prefeito. Também não serão, contudo, fantoches de empresários que irão concretizá-la.

Um primeiro passo, ainda que pequeno, para atingir tal objetivo é revogar o aumento das passagens.

LAURA VIANA, 22, estudante, LUÍZE TAVARES, 19, estudante, e DANIEL GUIMARÃES, 32, psicanalista, são integrantes Movimento Passe Livre de São Paulo

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