Folha de S. Paulo


FLAVIO AZEVEDO

Feliz Nova Zelândia, Brasil

No futuro, 2015 poderá ser lembrado no Brasil como um ano transformador. Para muitos empresários brasileiros, foi um ano tão difícil que, para cortar despesas, abrimos mão das tradicionais festas de Natal da empresa. Outros cortaram o cartão de "boas festas", também por razão econômica ou falta de inspiração para encontrar uma mensagem otimista.

Com maiores ou menores sacrifícios, 2015 talvez seja perpetuado como um marco de transformação para o Brasil, quando começamos a enfrentar de verdade problemas enraizados em 500 anos de história. Não será sem esforço, mas os brasileiros têm a chance de reinventar uma tradição. Em vez de desejar um feliz Ano Novo, podemos desejar um novo país. Algo parecido com o que fez a Nova Zelândia em 1984.

Até os anos 1980, a Nova Zelândia era um país rico, mas estagnado, fechado e ineficiente. Possuía renda per capita similar a Portugal e Turquia. Hoje a Nova Zelândia é considerada a terceira economia mais livre do mundo, segundo o centro de estudo Heritage Foundation.

Ironicamente, essa tremenda reinvenção se iniciou com um governo de esquerda, que estudou a máquina pública com o rigor das mais modernas empresas, cortando custos injustificáveis. Simplificou o papel do Estado, por meio de reformas que combinaram drástica redução de impostos com gestão profissional e enxuta, orientada por metas de desempenho para todos os braços do governo. Tarefas públicas mal desempenhadas ou desnecessárias eram ajustadas ou simplesmente abolidas.

Alguns exemplos desse impressionante "milagre neozelandês", como depois ficou conhecido o caso. De 5.600 funcionários, o Ministério de Transportes foi enxugando para 53. O de Meio Ambiente passou de 17 mil para 17. Obras Públicas, de 28 mil para 1.

Ao contrário do que se possa pensar, mais e melhores empregos foram criados para todos, iniciando um projeto de inovação que impulsionou a economia do país.

Hoje ouvimos, com muita tristeza, histórias sobre brasileiros que emigram ou pensam em abandonar o país. O mesmo acontecia na Nova Zelândia de 1984. Quando se perde a capacidade de planejar um futuro melhor, talvez seja a hora de buscar lá fora um novo modelo político e econômico. Não em um poderoso e antigo país, mas em uma nação ainda mais nova que o Brasil.

Antes que nossos empresários e jovens comprem passagens sem volta para o outro lado do mundo, por que não trazer para cá o professor e político Maurice McTigue? Ele foi um dos responsáveis pela continuidade do projeto que ajudou a reinventar um povo desiludido.

Hoje trabalha também como consultor de governos. Para os interessados em saber mais sobre essa história, uma palestra de McTigue está traduzida para o português, com o título "Como a Nova Zelândia reduziu o Estado, enriqueceu e virou a terceira economia mais livre do mundo". Basta pesquisar na internet. Feliz Nova Zelândia para você!

FLAVIO AZEVEDO, 44, é empresário e membro do GIG "" Global Intelligence Group, grupo de comunicação e negócio

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