Folha de S. Paulo


editorial

Confusão escolar

Cerca de um mês atrás, esta Folha chamou a atenção neste espaço para os eventuais transtornos suscitados pelo governo de São Paulo com a proposta, então embrionária, de reorganizar as escolas da rede pública estadual.

Pouco detalhamento e muita desinformação se seguiram. Protestos de professores, alunos e pais contra a gestão de Geraldo Alckmin (PSDB) conturbaram o processo, em si defensável, de racionalizar o uso dos prédios oficiais.

O sistema estadual perdeu 2 milhões de alunos desde 1998. O total hoje é de 3,8 milhões. Tal diminuição se deveu sobretudo à retração do número de filhos por família. Mas também houve transferência de estudantes de estabelecimentos públicos para privados, devido ao aumento da renda e à queda na qualidade do ensino oficial.

A reorganização se justificaria ainda, para a Secretaria da Educação, pelo ganho pedagógico esperado em colégios dedicados a determinadas faixas etárias. Escolas de segmento único, como são chamadas, apresentam resultados 15% a 28% superiores aos das que abrigam mais de um nível de ensino.

A carência de informações e a imaturidade do projeto podem ser aquilatadas pela discrepância entre o que se deu a conhecer, na época, e o que veio à luz na segunda-feira (26). Falava-se antes em algo entre 1 milhão e 2 milhões de alunos afetados; agora, diz-se que pouco mais de 300 mil serão transferidos.

O governo tucano nega ter recuado diante da pressão exercida por docentes e pela clientela da rede oficial. Afirma que o desenho atual resultou de estudos técnicos.

No fim das contas, haverá aumento de 52% no número de escolas de segmento único, que passarão de 1.443 para 2.197 (num total de 5.147 colégios da rede). Aquelas mais complexas de administrar, que concentram num só prédio os três níveis de ensino, recuarão 34%, de 479 para 315 unidades.

O remanejamento permitirá voltar a usar 2.956 salas de aula que estavam ociosas. Eis aí boa oportunidade para diminuir a superlotação de algumas classes e para expandir o ensino em tempo integral, o que poderá contribuir para elevar a baixa eficiência do aprendizado.

A Secretaria da Educação, porém, não aprendeu a lição: anunciou primeiro o número de alunos e escolas afetados; dias depois, indicou quais. Teria sido melhor apresentar o plano todo de vez.

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