Folha de S. Paulo


editorial

Preparar o barco

Entre 1901 e 2012, a temperatura na região costeira do Brasil subiu até 2,5ºC. A quantidade de dias com chuvas torrenciais, acima de 30 mm, também aumentou no Sudeste, em que pese a estiagem que castiga seus reservatórios.

Verifica-se, ainda, maior ocorrência e maior intensidade de fenômenos El Niño. E, com eles, eventos meteorológicos extremos como as chuvas que ora afogam o Rio Grande do Sul e a seca multianual que assola o semiárido nordestino.

A mudança climática está aí. Não é uma catástrofe que afetará só o futuro longínquo, mas uma crise a prevenir e remediar.

Na linguagem peculiar que se desenvolveu em um quarto de século de negociações sobre o clima, a prevenção se tornou conhecida como mitigação. Busca-se evitar o impacto do aquecimento global contendo-o no limiar de 2ºC por meio da redução de gases do efeito estufa.

Como quase metade disso (0,85ºC) já se deu e até aqui se mostrou impraticável cortar as emissões tanto quanto necessário, a prudência manda também remediar. Vale dizer, adaptar áreas, setores e populações mais vulneráveis às alterações climáticas que virão, mesmo que a Conferência de Paris, em dezembro, não fracasse como a de Copenhague (2009).

O governo federal dá agora um necessário primeiro passo nessa direção ao lançar o Plano Nacional de Adaptação à Mudança do Clima (PNA). O documento fica em consulta pública até novembro.

Vários países preparam planos do gênero, de modo a orientar seus investimentos. Não faz sentido, por exemplo, construir uma rodovia em área sob risco de inundação pela elevação do nível do mar.

O PNA está longe de chegar a esse grau de detalhamento. Predominam, no texto, verbos como analisar, avaliar, mapear e coordenar. Ou seja, a iniciativa de preparar o barco Brasil para a tempestade que se forma esbarra na ausência de dados e mapas para definir o curso que evitará seu maior impacto.

De algum ponto é preciso começar. O PNA pelo menos indica que a tripulação saiu do torpor e quer enxergar melhor o que tem pela frente. Logo, porém, terá de passar do diagnóstico para a ação.

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