Folha de S. Paulo


Benedito Fortes de Arruda

O médico veterinário em defesa da Saúde Única

De acordo com a OIE (Organização Mundial da Saúde Animal), seis de cada dez doenças infecciosas humanas conhecidas têm sua origem em animais, domésticos ou selvagens. Além disso, a ingestão de alimentos como leite, ovos e carne impróprios para consumo pode gerar contaminação, trazer prejuízos para a saúde humana e, consequentemente, para a saúde pública.

O fluxo de pessoas por todo o mundo a negócios ou turismo, além da comercialização de produtos, permite que agentes causadores de doenças rompam as barreiras de proteção territorial e se estabeleçam onde antes não existiam. Doenças, vírus e bactérias encontram na globalização a oportunidade de se multiplicarem e difundirem.

À medida que aumenta o deslocamento de pessoas, a interligação entre humanos, animais e meio ambiente torna-se mais significativa, criando uma dinâmica na qual a saúde de cada um está intimamente ligada.

Promover uma Saúde Única torna-se estratégico. Tal conceito define a interdependência da saúde humana, animal e ambiental e foi pensado nos anos 60 pelo médico veterinário Calvin Schwabe.

O desmatamento e a invasão das florestas aproximou a convivência do homem com diferentes espécies de animais. As mudanças climáticas permitem que os patógenos, através de vetores, como os mosquitos, colonizem áreas que até então eram muito frias, contribuindo para a proliferação de zoonoses –doenças infecciosas transmitidas entre os animais e o homem. Para citar alguns exemplos, ebola, raiva, leishmaniose, tuberculose, leptospirose, dengue, febre amarela.

Diante desse cenário, constata-se que os profissionais de Medicina Veterinária não são apenas médicos dos animais. Trabalham na supervisão da produção e na inspeção dos alimentos de origem animal que chegam à mesa dos consumidores, atuando nos frigoríficos, fábricas de conservas de carnes, pescado e laticínios, por exemplo. Além de trabalhar em pesquisas na área da saúde pública, no controle de zoonoses, cuidando da saúde de diferentes espécies animais e proteção do meio ambiente.

Aos poucos, o mundo desperta para a importância de se trabalhar em prol dessa integração, incentivando a ação conjunta de várias profissões. Devido ao amplo leque de competências, a Medicina Veterinária é a profissão de natural articulação no processo de convergência entre as saúdes humana, animal e ambiental.

A eficácia dessa abordagem depende da colaboração entre a Medicina Veterinária e a Medicina Humana, compartilhando experiências de forma a preparar os profissionais para os desafios da saúde pública mundial.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) tem solicitado aos países membros a participação dos médicos veterinários nas equipes de administração, planejamento e coordenação dos programas de saúde.

No Brasil, desde 2011, os médicos veterinários integram as equipes multiprofissionais do Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF) trabalhando, ao lado de outros profissionais, na atenção básica à saúde nos municípios brasileiros.

Durante as visitas domiciliares é feito o diagnóstico de risco à saúde na interação entre os seres humanos, animais e meio ambiente, orientando a população sobre a prevenção das zoonoses.

O Conselho Federal de Medicina Veterinária atua para que o Brasil se torne um dos protagonistas mundiais na Saúde Única com médicos veterinários capacitados para garantir a harmonia das várias frentes da saúde. Com isso, ganha a sociedade e ganham os profissionais.

BENEDITO FORTES DE ARRUDA, 66, médico veterinário, é presidente do Conselho Federal de Medicina Veterinária

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