Folha de S. Paulo


Antônio Carlos Nardi

Inovação no tratamento das hepatites

O Brasil possui cerca de 100 mil casos notificados de hepatite C em todo o país. Estudo com base na realidade brasileira, encomendado pelo Ministério da Saúde à Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, demonstrou que 0,72% da população possui a doença.

A hepatite C é uma doença, muitas vezes, silenciosa, o que requer uma combinação de estratégias diferenciadas na testagem, diagnóstico e tratamento.

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Recentemente, o país avançou na atenção à população, com um novo tratamento que traz uma taxa de cura de 90%. O tempo de terapia passa de 48 semanas para 12, além da vantagem de ser utilizado por via oral. Composto pelos medicamentos Daclatasvir, Simeprevir e Sofosbuvir, o novo tratamento é considerado o que há de mais inovador no mercado mundial.

Com essa iniciativa, entramos em um seleto grupo de países e nos tornamos um dos únicos a disponibilizar, de forma gratuita, a nova terapia no sistema público de saúde.

O tratamento prioriza pessoas com doença em estágio mais avançado ou que apresentam comorbidades. Dessa forma, passam a ter acesso aos novos medicamentos, por exemplo, pessoas com outras infecções, como HIV e Aids –independentemente do grau de fibrose– e pacientes em fila de transplante ou já transplantados.

A estratégia adotada pelo Brasil no enfrentamento da doença está alinhada com as mais recentes evidências científicas internacionais. Ao contrário do HIV, não há informação científica de consenso indicando que tratar todos os pacientes com hepatite C seja a melhor opção, afinal os medicamentos ainda são muito novos e será preciso acompanhar a sua aplicação e pesquisas.

Outra inovação foi a decisão de oferecer a terapia a pessoas com fibrose avançada e fibrose moderada superior a três anos. Essa indicação, que foi aprovada pelo comitê técnico assessor do Ministério da Saúde –composto por especialistas– é apoiada por todos os segmentos da sociedade civil que lutam contra as hepatites virais.

Devemos considerar que a hepatite C apresenta-se como uma doença crônica silenciosa, e que nem todos os casos foram identificados até o momento. Para enfrentar este problema, o Ministério da Saúde tem como estratégia o desenvolvimento de campanhas de conscientização e ampliação do diagnóstico. Foram adquiridos mais de oito milhões de testes rápidos para hepatite C, que serão distribuídos a estados e municípios brasileiros.

Já para a assistência nacional à doença, o Ministério da Saúde está adquirindo 30 mil novos tratamentos destinados à hepatite C crônica para os próximos 12 meses. Esse número foi definido com base em demandas reais, identificadas a partir da testagem e do diagnóstico da doença em estados e municípios.

Aos pacientes vivendo com HIV e Aids, o Brasil oferece no SUS o melhor tratamento disponível no mundo. Isso foi possível graças à negociação de preços, ao longo desses anos. Agora, a história se repete com as hepatites virais.

O Ministério da Saúde conseguiu, no mercado internacional, descontos de até 90%. Enquanto no nosso país o custo deste tratamento está entre US$ 9,4 mil e US$ 9,6 mil (R$ 35,3 mil a R$ 36,1 mil), na Europa e nos EUA, os preços têm oscilado entre US$ 45 mil e US$ 92 mil (R$ 169,2 mil a R$ 345,9 mil).

Essas importantes incorporações reforçam o compromisso do Ministério da Saúde em oferecer o melhor tratamento disponível aos pacientes com hepatite C, de forma gratuita, consolidando a política sustentável e responsável que vem sendo desenvolvida pela pasta ao longo dos anos.

ANTÔNIO CARLOS NARDI, 54, é secretário de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde

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