Folha de S. Paulo


ricardo balthazar

De Marcelo para Sergio

SÃO PAULO - Os e-mails apresentados pelo juiz Sergio Moro para justificar a prisão do empresário Marcelo Odebrecht são muito mais reveladores do que sugerem a análise superficial dos investigadores da Operação Lava Jato e a versão adocicada que a Odebrecht defende.

As mensagens são de março de 2011 e foram encontradas pela Polícia Federal em buscas realizadas nos computadores da empresa no ano passado. Elas mostram Marcelo Odebrecht discutindo com quatro executivos do grupo uma estratégia para conquistar um contrato bilionário para construir e operar sondas destinadas à exploração do pré-sal.

Um dos e-mails fala em "sobrepreço" ao debater o plano sugerido pela Odebrecht à Sete Brasil, empresa criada pela Petrobras para contratar as sondas. A ideia era oferecer um preço camarada para construir os navios e compensar a diferença depois, cobrando mais caro pelos serviços de operação das sondas. Tudo perfeitamente legal, diz a Odebrecht.

Como a Folha mostrou no domingo, as mensagens revelam um personagem até então fora do radar das autoridades, o consultor André Luiz de Souza, que tem ligações antigas com o PT e prometia ajuda para financiar as sondas com dinheiro do FGTS. Ao analisar os e-mails, a polícia achou que se tratava de outra pessoa, um executivo da Odebrecht.

Os e-mails também mostram a importância que a empresa dá para suas relações com o mundo político. Numa das mensagens, Marcelo Odebrecht se mostra preocupado em não contrariar o então governador da Bahia, Jaques Wagner (PT), e indica que planejava procurar a presidente Dilma Rousseff para discutir seu plano para as sondas do pré-sal.

Caberá à Justiça dizer se o conteúdo dos e-mails serve para condenar Marcelo Odebrecht por algum crime. Mesmo que não provem nada, eles oferecem uma lição esclarecedora sobre um jeito particular de fazer negócios, que pode ter sido colocado em xeque pela Operação Lava Jato.


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