Folha de S. Paulo


opinião

Marcelo De Franco, Carlos Wendel Magalhães e Jorge Kalil: Vacina contra a dengue é preciso

O Programa Nacional de Imunização (PNI), do Ministério da Saúde, completou 40 anos em 2014, sendo um exemplo de sucesso. Suas campanhas têm alcance médio de 90% da população almejada, enquanto em outras partes do mundo verificamos níveis preocupantes de 30 a 40%, o que explica surtos recentes de sarampo, rubéola e coqueluche nos EUA e Europa.

Os principais agentes desse programa são os laboratórios públicos oficiais, que garantem ao ministério a disponibilidade de vacinas com preços compatíveis. Os dois maiores produtores são Biomanguinhos e Instituto Butantan, responsáveis por 80% dos soros e vacinas disponibilizados ao PNI.

Ambos lutam, no entanto, para readequar suas plantas produtivas aos regulamentos impostos pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) para atender as boas práticas de fabricação. Essas ações aumentam a segurança e a qualidade dos produtos, porém demandam recursos volumosos, atualmente escassos no setor público.

O Instituto Butantan, por ser um departamento da Secretaria da Saúde do Estado de São Paulo e não ter personalidade jurídica, confeccionou um modelo de terceiro setor em 1989, criando a Fundação Butantan para administrar de forma segura e ágil os recursos advindos de sua produção de imunobiológicos.

Essa arquitetura ganhou robustez e confiabilidade com um choque de gestão feito em 2012, quando o diretor do Instituto Butantan, Jorge Kalil, assumiu a presidência da Fundação Butantan, por sugestão do Ministério Público, representado pela curadoria das fundações do Estado de São Paulo.

Em novo formato, a fundação passou a ter papel administrativo e financeiro alinhado e incorporado ao instituto, permitindo um modelo de gestão equilibrado e assertivo.

Os resultados apareceram com a primeira certificação de boas práticas para a linha de produção, formulação, envase e empacotamento da vacina da gripe, única no Brasil.

Vem sendo também possível modernizar infraestruturas prediais, de informática, telefonia e segurança de trabalho, assim como, melhorias no atendimento aos funcionários, limpeza e vigilância, as quais não são possíveis ao Estado.

Como todo choque causa reações corporativas e sindicais, várias denúncias de abusos e descontroles foram levantadas de forma anônima e sem fundamentos, sendo arquivadas em sua totalidade.

Com esse modelo, está sendo possível adequar a instituição às demandas regulatórias da Anvisa, do Ibama e de outros agentes, bem como investir em novos projetos, como a vacina da dengue.

Os estudos da fase dois –segurança e eficácia em grupo reduzido de pessoas– são muito promissores, o que nos levou a agilizar a fase três (grupo ampliado), última antes da disponibilização dessa vacina para a população.

É preciso que governos federal, estadual e municipal, agências regulatórias e Instituto Butantan marchem unidos para a frente de batalha contra a dengue e outras doenças infecciosas de forma coordenada para que possamos encontrar os meios e recursos necessários para vencer esta guerra.

O Instituto Butantan está pronto e organizado, além de saber que pode contar com seus gestores neste desafio, pois vacinar é preciso.

MARCELO DE FRANCO, 51, é diretor substituto do Instituto Butantan
CARLOS WENDEL MAGALHÃES, 56, é superintendente da Fundação Butantan
JORGE KALIL, 61, é diretor do Instituto Butantan e presidente da Fundação Butantan

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