Em cinco dias, 232 mil servidores da Secretaria da Educação do Estado de São Paulo começarão a receber R$ 1 bilhão em bônus salariais. O valor supera em 42% o distribuído em 2014. Apesar disso, a Apeoesp (sindicato dos professores) deflagrou mais uma greve.
A bonificação abrange todos os funcionários porque a rede estadual superou metas pedagógicas em todos os níveis de ensino. Metade da categoria receberá ao menos R$ 3.500, cifra significativa diante do salário-base de R$ 2.416 para a jornada de 40 horas semanais.
A remuneração mensal é 26% maior que o piso nacional do magistério. Não pode ser considerada atraente, contudo.
Esta Folha há muito defende a valorização salarial da carreira docente, para que se torne capaz de recrutar e manter os melhores talentos egressos das universidades. Parte dessa melhoria deve vir na forma de premiação por desempenho, como tem feito o governo paulista, mas também é crucial elevar as quantias de referência.
Trata-se, afinal, de profissão decisiva para o futuro do país. Quem trabalha duro para educar e qualificar a população merece contrapartida adequada.
A Apeoesp, no entanto, ultrapassa todas as medidas do razoável. Nesta paralisação, reivindica reajuste de 75,33% nos proventos, de maneira a equipará-los com os ganhos de outras categorias estaduais que exigem nível superior.
O pleito é descabido. O professorado tem obtido reajustes anuais; o último começou a ser pago em agosto. A inflação acumulada em 12 meses está em 7,7% (IPCA).
Até um desvairado militante esquerdista tem de reconhecer que nenhum governo, com a crise aguda da economia e a inevitável queda na arrecadação de impostos, pode dispor de recursos para expandir gastos de forma desmesurada.
O irrealismo patente do movimento reforça a conclusão de que seu objetivo seja menos corporativista que político. Satélite da CUT e do PT, a Apeoesp se mostra inclinada a manobrar a categoria para fustigar o governo estadual do PSDB.
Para isso, não hesita em usar as famílias de 4 milhões de alunos como peões no xadrez partidário. Centenas de milhares deles são forçados a perder aulas, mesmo que a paralisação não atinja os proclamados 60% da categoria.
Ao cruzar os braços poucas semanas depois de iniciado o ano letivo, os professores em greve deixam a seus alunos a lição de que o ensino figura entre as últimas de suas prioridades.