Folha de S. Paulo


Jéferson Assumção: A literatura brasileira no Salão do Livro de Paris

O Brasil, homenageado na 35ª edição do Salão do Livro de Paris que ocorre de 20 a 23 de março na capital francesa, é um país com uma literatura cada vez mais presente no cenário internacional. Isso se deve a pelo menos três fatores, entre outros: isenção de impostos sobre livros, aumento do interesse mundial pela literatura brasileira e forte investimento público na tradução de obras nacionais para outros idiomas.

Conforme dados da Câmara Brasileira do Livro (CBL) e Sindicato Nacional de Editores de Livros (SNEL), somente em 2013 o setor editorial brasileiro produziu 467 milhões exemplares de livros e teve um faturamento total de R$ 5, 3 bilhões. Foram 480 milhões de livros vendidos. Deste total, o mercado comprou R$ 3,8 bi e o governo, principalmente o Ministério da Educação (MEC), adquiriu R$ 1,4 bilhão.

A cada ano, o Brasil tem em média mais 21 mil novos títulos lançados, o que totalizou, em 2013, 90 milhões de livros inéditos e 376 milhões de reimpressões.

O crescente interesse mundial em relação ao Brasil vem aumentando nossa presença e nossa relevância nas feiras internacionais. Nos últimos anos, o Brasil foi o país homenageado em alguns dos principais eventos do setor, como a Feira de Frankfurt 2013, a maior do mundo, e de Bolonha 2014, a mais importante feira de literatura infanto-juvenil.

Antes disso, o Brasil foi homenageado em Santiago do Chile, em 2007, Santo Domingo em 2009 e Bogotá em 2012, além de participar de diversas outras ações internacionais, cujo objetivo é mostrar a qualidade da literatura que se faz aqui e a importância de nosso setor editorial. Com o Salão do Livro de Paris, mais uma rodada de oportunidades se coloca para autores e editores brasileiros.

O expressivo crescimento do número de bolsas de tradução concedidas no período 2011 a 2014, pela Fundação Biblioteca Nacional (FBN) também tem sido um incentivo para a literatura brasileira. O Programa de Traduções concedeu 770 bolsas de 1991 a 2014, sendo que destas 543 entre os anos de 2011 e 2014 (70% do total). Trata-se de um enorme impulso à presença da nossa literatura no Exterior, o que acontecia muito pouco até então. Basta procurar o que havia de livros nossos no mercado internacional para perceber o quanto esta realidade era restrita.

Hoje, apenas pelo programa da FBN, 290 autores brasileiros estão publicados em 47 países, num total de investimentos do Ministério da Cultura de cerca de R$ 4,5 milhões de reais (apenas se contar o investido a partir de 2011).

Os cinco países que mais se interessaram em participar do programa são Alemanha, Espanha, França, Itália, Argentina e os dez principais autores traduzidos: Clarice Lispector, Jorge Amado, Machado de Assis, Rubem Fonseca, Moacyr Scliar, Alberto Mussa, Adriana Lisboa, Daniel Galera, Chico Buarque e Michel Laub.

Na próxima semana, numa ação articulada entre Ministério da Cultura, Ministério das Relações Exteriores e Câmara Brasileira do Livro (CBL), 43 autores representarão o País na França. Para a seleção dos nomes foi escolhida uma curadoria externa e estabelecidos critérios que certamente ajudarão a dar um bom panorama da literatura produzida no Brasil de hoje. Foram levados em consideração a representatividade regional, o equilíbrio de gênero (masculino e feminino), a diversidade étnica e cultural, de gêneros literários e ciências humanas, equilíbrio entre autores consagrados e novos e preferencialmente com obras traduzidas para o francês.

Com decisão política, articulação, visão estratégica, todas contidas no Plano Nacional do Livro e Leitura (PNLL) e investimento, o Brasil tem mostrado ao mundo, de maneira cada vez mais estruturada, a qualidade de sua literatura. Será assim, novamente, no Salão do Livro de Paris.

JÉFERSON ASSUMÇÃO é escritor, diretor de Livro, Leitura, Literatura e Bibliotecas do Ministério da Cultura

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