Folha de S. Paulo


Leandro Ferreira e Márcio Pozzer: Com o PT podemos mais

A Folha abriu espaço para um debate político renovador ao publicar no dia 11 deste mês –neste mesmo espaço– um artigo propondo mudanças no funcionamento do PSDB ("O caminho é a participação"). Esse debate de ideias e de propostas, no entanto, não deve ficar restrito ao interior dos partidos políticos.

As manifestações que floresceram pelo mundo e chegaram ao Brasil em 2013 demonstram a fadiga de um modelo de participação forjado no século 19. O século 21 precisa chegar para o mundo da política. Não serão as soluções do passado que atenderão demandas do presente.

Dentre as experiências político-partidárias brasileiras, o Partido dos Trabalhadores, fundado em 1980, destaca-se. Atualmente, o PT vem inovando ao democratizar sua estrutura interna, pois o partido já elege seus candidatos e diretorias pelo voto direto.

O histórico de engajamento, formulação e implementação de políticas públicas colocam o PT, há anos, como o partido mais lembrado entre os brasileiros que possuem preferência partidária.

A realização do 5º Congresso do PT, que será aberto a militantes, organizações e movimentos sociais, ainda que não sejam filiados ao partido, abre a possibilidade de novos contornos dados por uma geração de petistas –formada durante os governos Lula e Dilma Rousseff–, que possuem críticas aos rumos do partido e a sua forma de condução.

Exemplo disso é o conjunto de propostas do coletivo Democracia Vermelha, que busca garantir espaço para as lutas progressistas de uma geração que não se vê representada por instituições políticas, ainda que seus anseios só avancem em governos do PT.

É evidente que, assim como os demais partidos, o PT precisa se modernizar e promover mudanças que solucionem problemas gerados pela política tradicional, viabilizando a participação dessa geração que não tolera mais clientelismo, patrimonialismo e autoritarismo.

Não se trata de transplantar para as redes sociais a militância e as pautas que são definidas nos diretórios. Mas, sim, de proceder internamente à imagem e semelhança das ruas e das redes, radicalizando na transparência, buscando maior horizontalidade nas deliberações coletivas, criando mecanismos de financiamento participativo e atualizando seu programa.

Em 2011, o Partido Socialista francês realizou eleições primárias abertas à população que, concordando com os princípios do partido, desejasse participar do processo. O resultado? Um processo de mobilização de 2,8 milhões de pessoas que fortaleceu François Hollande, hoje presidente daquele país.

Questões simples, como a disponibilização em tempo real das finanças do PT, inclusive no período eleitoral, não encontram mais obstáculo tecnológico. Isso favorece um debate transparente sobre o financiamento da política.

Não podemos permitir que os anseios das ruas, reivindicando mais participação, qualidade dos serviços públicos e eficiência nos gastos, sejam capturados por organizações conservadoras que proponham um retrocesso político e social.

O PT precisa se reinventar e seguir oferecendo a possibilidade de sonhar e de experimentar um Brasil melhor. Podemos mais!

LEANDRO FERREIRA, 26, é assessor do secretário municipal de Direitos Humanos e Cidadania de São Paulo, Eduardo Suplicy, e MÁRCIO POZZER, 35, é chefe de gabinete do secretário municipal da Cultura, Nabil Bonduki. Ambos integram o coletivo Democracia Vermelha, ligado ao PT

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