Folha de S. Paulo


Editorial: As crises da Petrobras

Os efeitos da crise da Petrobras se alastram pela economia. A preocupação mais recente relaciona-se com o impacto que a asfixia financeira de empresas –envolvidas em corrupção ou não– pode ter sobre bancos e o mercado de capitais.

A incapacidade das firmas de honrar seus compromissos tende a encarecer e reduzir o crédito para as áreas afetadas pelos escândalos ou pelo descalabro na estatal.

Apesar de mais esse desdobramento, o governo ainda não apresentou plano duradouro a fim de restaurar a ordem, o equilíbrio financeiro e a confiança num dos maiores setores da economia.

A Petrobras, a rigor, padece de uma conjunção de crises. Perdeu dezenas de bilhões com o subsídio de combustíveis; com os excessos da política industrial, pela qual é obrigada a comprar em demasia produtos e serviços nacionais mais caros; com os desvios.

Tais fatores, acrescidos de um programa de investimentos por demais ambicioso, fizeram com que a taxa de endividamento da empresa quadruplicasse desde 2011.

A política de reserva de mercado favoreceu o ambiente em que viceja a corrupção, além de eliminar incentivos a reduções de custos. A precariedade dos projetos de obras abriu espaço para sobrepreços ou atrasos em pagamentos, pois ficaram nebulosos os critérios de revisão de contratos.

O escândalo abateu um corpo doente. A estatal perdeu crédito e vai ter de reduzir investimentos à força, com efeitos em cascata.

A desordem no setor e a corrupção em várias fornecedoras provocam pedidos de recuperação judicial, rebaixamentos de crédito e inadimplementos. Há obras paralisadas, demissões, greves. O tumulto gera ainda mais desconfiança sobre o crescimento da economia.

O governo procura por ora manter o que imagina serem as aparências restantes e dedica-se a apagar incêndios. Por exemplo, que as empreiteiras não sejam declaradas inidôneas, o que poderia prejudicar obras; que se façam arranjos a fim de evitar impactos em bancos.

Não se dá conta de que, agindo assim, de improviso e com um pragmatismo mesquinho, estoca ainda mais problemas para o futuro.

É possível que, no intuito de evitar mal maior e imediato, tenha de se tolerar mais um desses remendos típicos do governo, mas com algumas condições incontornáveis.

Primeiro, que o governo apresente um plano para restaurar a racionalidade econômica na Petrobras. Segundo, qualquer solução que envolva socorro a empresas inidôneas tem de ser combinada a uma dura punição a seus proprietários, à maneira dos procedimentos de intervenção em bancos.

Serão nada menos que intoleráveis o favor, a impunidade e o esbulho adicional do dinheiro público.


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