Folha de S. Paulo


Silvio Cioffi: Ministério de não-notáveis

O novo ministério da presidente Dilma não empolga, não tem grandes nomes, foi nomeado tendo como base o loteamento de cargos e o continuísmo. Tem 39 pastas, mas é "apequenado", reflete mais os arranjos e as atuais conveniências políticas do que a diversidade e a relevância do país.

E aponta, na melhor das hipóteses, para um 2015 marcado por cortes de despesas.

Rui Falcão, o presidente do PT, já disse que não há oposição entre o partido e a presidente, e sublinhou que o ministério de Dilma tem "a cara do PT e está atento à coalizão".

Sim, é inegável, o novo ministério tem também muitas caras conhecidas do PMDB. E numa das pastas menos relevantes, a do Turismo, o ministro anterior de Dilma, Vinícius Lages, foi mantido.

Segundo se diz, Lages foi indicado por Renan Calheiros (PMDB), o presidente do Senado. Lages estaria apenas guardando lugar para o deputado Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) –que está no seu 11º mandato consecutivo– até que se apure o possível envolvimento deste no desvio de recursos da Petrobras.

Nesse caso, Dilma estaria no aguardo de manifestação da Procuradoria-Geral da República para redefinir seu ministério de não-notáveis.

O curioso, nesse momento, é que, a julgar pela opinião de quem acompanha o turismo, Lages é uma "zebra", tem real familiaridade com o setor, fez doutorado na França, foi membro do Conselho Nacional de Turismo e representante da Organização Mundial do Turismo (OMT).

Até ele –e por muito tempo–, o Ministério do Turismo foi cadeira cativa de peemedebistas que não eram do ramo. Já a Embratur, notória capitania hereditária do PCdoB que padecia do mesmo vezo, a situação foi sempre a mesma.

Hoje, há rumores de que a presidência da Embratur, um cargo cobiçado do segundo escalão, estaria também na mira do PMDB....

Em consequência de anos de aparelhamento político e de falta de visão estratégica para o turismo receptivo, o país permaneceu empacado na marca pífia de 5,5 milhões de turistas estrangeiros/ano.

No passado, graças à Copa do Mundo, o Brasil recebeu cerca de 6,7 milhões de visitantes internacionais. Não que isso seja um grande trunfo, já que países que levam o turismo a sério exibem números bem mais robustos.

Com os números mundiais de 2014 prestes a serem fechados, já dá para estimar, com base em dados da OMT, que a França recebeu 85 milhões de viajantes estrangeiros; os EUA, 65 milhões; a Espanha, 60 milhões; a China, 56 milhões e a Itália em torno de 48 milhões de pessoas.

Em 2016, o Rio será sede dos Jogos Olímpicos. Resta saber se, aproveitando o ensejo, o governo federal terá condições de dar um salto de qualidade.

SILVIO CIOFFI é repórter especial e editor dos semináriosfolha.


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