Folha de S. Paulo


Editorial: Debater as ciclovias

Após ser pressionada por moradores e comerciantes de alguns bairros de São Paulo, a prefeitura decidiu alterar ao menos duas ciclovias já implantadas na cidade.

Primeiro foi a vez de uma rota no Cambuci, na zona sul. Na última quinta-feira (13), apagou-se um percurso na praça Vilaboim, em Higienópolis (zona oeste).

Motivados por essas reconsiderações da administração de Fernando Haddad (PT), residentes e trabalhadores de outras áreas da capital pretendem retomar negociações com o Executivo municipal no intuito de corrigir o que consideram falhas de planejamento.

Como se houvesse demérito em admitir os evidentes problemas, o secretário municipal de Transportes, Jilmar Tatto, nega que as mudanças tenham decorrido de pressões. "Agimos sob o ponto de vista técnico", declarou.

Seja como for, tais readequações indicam que a prefeitura começa a fazer agora algo que deveria ter feito desde o começo: ouvir a população e aceitar críticas.

Nisso, poderia seguir o exemplo de Nova York. Em entrevista publicada por esta Folha no fim de setembro, Janette Sadik-Khan, secretária de Transportes da cidade americana durante sete anos –no período que em foram construídos 587 km de ciclovias–, narrou o longo processo de negociação que empreendeu em sua gestão.

Em suas contas, foram realizados em média 2.000 encontros por ano para discutir rotas de ciclovias.

São Paulo não chegou nem perto disso. Basta dizer que, nos cerca de 120 km implantados, houve casos em que as faixas vermelhas foram pintadas em meio a feiras livres ou invadindo calçadas. Em diversas oportunidades, munícipes foram surpreendidos com as intervenções já prontas em suas ruas.

É lamentável que seja assim. Não há dúvida sobre a importância de ampliar as faixas exclusivas para bicicletas na cidade. A medida, não por acaso, é tendência nas principais metrópoles do mundo. Os paulistanos, por sua vez, dão amplo respaldo às ciclovias, como mostrou recente pesquisa Datafolha.

Ainda falta muito para São Paulo chegar aos 400 km de vias exclusivas prometidos por Fernando Haddad até o fim de 2015; nessa trilha, reconheça-se, sempre haverá interesses contrariados. Em Nova York, o processo tampouco foi simples. A aceitação das vias para ciclistas demorou cerca de seis anos, cercada de resistências.

Mas a opção pelas ciclovias, espera-se, é um caminho sem volta. Melhor, assim, que seja amparado num planejamento adequado e no diálogo com a população.


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