Folha de S. Paulo


Paulo M. Hoff: Apertando o cerco ao tabagismo

O tabagismo é uma doença crônica e representa hoje a maior causa de morte evitável em todo o mundo. Pode parecer absurdo, mas mesmo com a disseminação dessa informação assustadora, a OMS (Organização Mundial de Saúde) estima que ainda existam aproximadamente um bilhão de fumantes espalhados pelos cinco continentes.

No Brasil, 11% da população fuma, o que representa quase 22 milhões de pessoas e 200 mil mortes por ano.

O fumo está relacionado a cerca de 50 tipos de doenças. No caso do câncer, ao redor de 30% das mortes são atribuídas a tumores ligados ao tabagismo. Um levantamento recente do Icesp (Instituto do Câncer do Estado de São Paulo Octavio Frias de Oliveira) apontou que 1 em cada 4 pacientes internados na unidade tem histórico de tabagismo.

O cigarro, ao contrário do que a maioria das pessoas pensa, não está relacionado apenas ao câncer de pulmão. O estudo mostrou que os maiores índices de tabagismo foram encontrados entre os pacientes dos setores de urologia e de cirurgia torácica, com 47% e 45% do total de atendidos, respectivamente. Entre os homens, o índice é ainda mais impactante, com 61% de fumantes.

Apesar das estatísticas ainda serem estarrecedoras, é fato que o Brasil já avançou muito na luta contra o fumo. A lei que proíbe a propaganda de cigarros na mídia foi uma vitória para o país, que extinguiu a promoção nos veículos de comunicação e locais públicos.

A indústria do cigarro também ficou impedida de divulgar seus produtos em eventos esportivos, o que, convenhamos, caminhava na direção contrária do que o esporte representa para a saúde. As mensagens e imagens de alerta nos maços e carteiras de cigarros sobre os riscos da saúde ligados ao tabagismo, como infarto agudo do miocárdio, câncer, trombose, aborto e impotência sexual, entre outros, também contribuíram na conscientização de nossa sociedade.

Em São Paulo, a Lei Antifumo, criada pelo governo do Estado, baniu o tabaco dos ambientes fechados de uso coletivo, com objetivo de coibir o tabagismo passivo, terceira causa de morte evitável segundo a OMS. A iniciativa foi um sucesso, com 99,7% de adesão dos estabelecimentos vistoriados pela Vigilância Sanitária e pelo Procon de São Paulo, e com aprovação de mais de 80% da população.

Campanhas de conscientização e prevenção representam um passo muito importante na luta contra o cigarro. E isso é fundamental frente aos males causados pelo fumo. Mas ainda é possível avançar mais.

O acesso fácil dos jovens ao cigarro é preocupante. Uma pessoa exposta ao cigarro na adolescência corre muito mais risco de se tornar um dependente do tabaco. Por isso, sugeri ao senador Ruben Figueiró (PSDB-MS) um projeto de lei nesse sentido, encampado por ele e levado ao Senado Federal.

O Projeto de Leito do Senado 273/2014 visa proibir o comércio de cigarros no entorno de escolas e de estabelecimentos de saúde. A venda de fumígenos tão próximos a locais onde os jovens predominam instiga e incentiva o consumo e deve ser coibida para o bem da sociedade.

Ações como essas trazem esperança de garantirmos um futuro com mais saúde às próximas gerações e uma expectativa de vida saudável para os nossos jovens. Os malefícios do fumo são conhecidos por todos, mas a juventude, em particular, é muito suscetível ao vício e precisa ser protegida. Evitar o fácil acesso de adolescentes ao cigarro é um grande passo para fecharmos ainda mais o cerco contra o fumo.

PAULO M. HOFF, 46, oncologista, é diretor geral do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo Octavio Frias de Oliveira e professor titular da disciplina de Oncologia da Faculdade de Medicina da USP

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