Folha de S. Paulo


Mark Weisbrot: Questões econômicas favorecem Dilma

As questões ligadas à economia foram amplamente discutidas nessa disputa entre Dilma Rousseff e Aécio Neves, que se encerra neste domingo (26). Muitas vezes, a cobertura do tema é malfeita e pouco compreendida, de modo que vale a pena rever as questões principais.

Primeiramente, o histórico de atuação do PT. Sua conquista mais citada foi na área da redução da pobreza: o índice de pobreza caiu 55% desde 2003 e o de pobreza extrema, 65%. O crédito por isso cabe ao governo? Em grande medida, sim.

A economia cresceu muito mais nos governos do PT do que durante os oito anos de governo Fernando Henrique, e boa parte disso se deveu às políticas fiscal e monetária menos restritivas. A renda per capita cresceu 2,3% ao ano durante os anos do PT –contra 0,7% na era FHC–, mesmo incluindo a recessão de 2009 e o desaquecimento dos últimos anos.

A ampliação do Bolsa Família, que de 16,2 milhões de pessoas passou a alcançar 57,8 milhões, e o aumento real de 90% do salário mínimo também representarem um reforço enorme para as pessoas pobres.
Mas o impacto das políticas governamentais também elevou a renda de muitos brasileiros para acima da linha de pobreza. Essas políticas incluem aumentos nas pensões públicas e um aumento real de 35% na média dos salários desde 2003.

O fato de os salários terem continuado a subir mesmo depois de a economia ter começado a se desaquecer, em 2011, indica que ocorreu uma mudança estrutural em favor do poder de barganha dos trabalhadores. A economia continua com um índice de desemprego baixíssimo.

Desde 2011, contudo, o crescimento perdeu força e neste ano a economia entrou em recessão técnica. Para ver como Aécio Neves daria nova partida na economia, vejamos as declarações de seu coordenador econômico, Arminio Fraga, ex-presidente do Banco Central e hoje gerente de fundos de hedge.

Fraga propõe restringir o Orçamento e reduzir a meta de inflação do governo, algo que, presume-se, também significaria a elevação das taxas de juros. Seu argumento é que essas medidas "restaurariam a credibilidade" da política econômica brasileira e, com isso, atrairiam mais investimentos privados.

Podemos ver até que ponto tal "retorno à ortodoxia econômica", como o "Financial Times" descreveu, vem funcionando na zona do euro ou em outros países, onde levou à recessão prolongada e a índices recordes de desemprego.

Esse grupo quer conduzir a economia com um pé pressionando o freio e torcer para que os investidores o recompensem por fazê-lo. Mas os investidores raramente se animam com uma economia estagnada. Arminio, que será o ministro da Fazenda caso Aécio saia vencedor no domingo, também quer limitar a ação dos bancos públicos, o que significaria também menos investimentos do governo.

Aécio e Arminio também querem tornar o Banco Central mais independente do Executivo. Na prática, isso geralmente significa um Banco Central mais disposto a sacrificar o crescimento, o emprego, a redução da pobreza e a política industrial aos interesses do setor financeiro, ao buscar –muitas vezes em vão– um índice de inflação mais baixo.

A presidente Dilma foi generosa demais quando disse que o PSDB "governou para apenas um terço do país". Foi um grupo muito menor que se beneficiou de presentes como as privatizações maciças, enquanto a economia estagnava. Será surpreendente se a maioria dos brasileiros votar pelo retorno das políticas fracassadas e menos inclusivas do passado.

MARK WEISBROT é codiretor do Centro de Pesquisa Econômica e Política, em Washington, e presidente da Just Foreign Policy, organização norte-americana especializada em política externa
Tradução de CLARA ALLAIN

*

PARTICIPAÇÃO

Para colaborar, basta enviar e-mail para debates@uol.com.br.

Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo.


Endereço da página:

Links no texto: