Folha de S. Paulo


Paulo Teixeira e Guilherme Mello: Aécio e o racionamento da esperança

Quem mora no Estado de São Paulo convive diariamente com o risco de racionamento de água. Na capital, o problema já atinge um em cada quatro distritos, em todas as regiões da cidade, como bem apontou reportagem de capa da Folha na última quarta-feira, dia 14 ("Falta de água atinge todas as regiões de SP").

Em Campinas, metade da população enfrenta algum tipo de racionamento, o que tem causado protestos em diversos bairros, como revelado pela Folha no mesmo dia 14 ("Moradores de Campinas fazem fila em bica").

Três dias após a reeleição em primeiro turno do governador tucano, Geraldo Alckmin, a Sabesp admitiu que há racionamento, apesar de se valer de um termo técnico para escamotear o fato.

Uma semana depois, em depoimento à CPI, a presidente da empresa, Dilma Pena, revelou que a água disponível só é suficiente para abastecer a população até meados de novembro. Ou seja: contagem regressiva para a seca absoluta.

Culpa de São Pedro? Relatório da ONU diz que não. Segundo as Nações Unidas, a responsabilidade pela atual escassez de água é da falta de planejamento e de investimentos do Estado, governado pelo PSDB há 20 anos.

A realidade do racionamento não é nova para quem acompanha os governos tucanos. Talvez o mais conhecido dos racionamentos, o apagão de energia ocorrido em 2001, teve como consequência uma brutal redução do crescimento econômico devido à paralisação das atividades produtivas.

Aquele racionamento também foi causado pela falta de planejamento e de investimentos no setor, que na época havia sido quase totalmente privatizado pelo governo neoliberal de FHC.

A falta de planejamento é marca dos governos neoliberais, que delegam o futuro da nação aos poderes do mercado, na crença de que a escolha dos investidores privados sejam as mais "racionais". Ao final, muitas dessas escolhas "racionais" causaram, de fato, racionamento.

De todos os racionamentos provocados pelo projeto neoliberal, hoje representado pela candidatura de Aécio, há um que talvez seja ainda mais grave do que os apagões de água e de luz. Trata-se do racionamento da esperança.

Com 10% de desemprego, juros na casa dos 45%, salário mínimo inferior a US$ 100, 30% da população abaixo da linha de pobreza e mobilidade social restrita ao andar de cima da pirâmide social, o Brasil de FHC ameaçava sucumbir a qualquer momento diante do racionamento da esperança. Racionavam-se não apenas os empregos, mas também os salários e a confiança no futuro.

Eram tempos bicudos, de racionamento de oportunidades para os filhos cursarem o ensino superior; racionamento de expectativa de inserção no mercado de trabalho; racionamento, enfim, de perspectivas de uma vida melhor.

O Brasil de hoje não lembra em nada aquele que nos foi legado pelos tucanos em 2002, com inflação em 12%, submetido aos ditames do FMI e sem condições de se posicionar de maneira soberana no cenário global.

O Brasil de Lula e Dilma é o Brasil do desemprego baixo, do Prouni e do Pronatec, que retomou a esperança de ascensão social pelo estudo para milhões de brasileiros. É o Brasil do salário mínimo elevado e do Minha Casa, Minha Vida, que transforma em realidade o velho sonho da casa própria. É o Brasil do combate à pobreza, que saiu do mapa da fome da ONU. É o Brasil do banco dos BRICS, que mudou o balanço do poder mundial em favor dos países em desenvolvimento.

Em suma, é o Brasil que mudou e vai continuar mudando, com abundância de oportunidades para todos continuarem crescendo e desenvolvendo nosso país.

PAULO TEIXEIRA é deputado federal pelo PT de São Paulo
GUILHERME MELLO é economista do Centro de Estudos de Conjuntura e Política Econômica da Unicamp

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