Folha de S. Paulo


Editorial: Na mesma

Não se registraram variações nas preferências do eleitor desde a semana passada. Situa-se dentro da margem de erro do Datafolha a superioridade do senador Aécio Neves (PSDB), com 51% dos votos válidos, sobre a presidente Dilma Rousseff (PT), que tem 49%.

Nada mudou, portanto, após o início da propaganda política e a declaração de apoio de Marina Silva (PSB) a Aécio. Talvez, ao longo dos dez dias que restam até a votação, o confronto de ideias entre os candidatos à Presidência possa alterar o tamanho dos blocos que hoje se configuram com clareza.

Deu-se anteontem (14), no debate promovido pela Rede Bandeirantes, a primeira oportunidade para isso. Com audiência média de 11 pontos (cerca de 715 mil domicílios na Grande São Paulo), segundo o Ibope, o encontro poderia ter sido ocasião para que se aprofundassem as propostas e visões de mundo de Aécio e Dilma.

O que se viu, entretanto, foi uma discussão ao mesmo tempo cheia de generalidades e detalhista em excesso. Numa circularidade cansativa, trocaram-se acusações e números cuja veracidade mesmo o espectador mais diligente teria imensos entraves para verificar.

Para qualquer setor prioritário o postulante à Presidência consegue citar índices favoráveis a sua administração ou nocivos à do oponente. Não é o caso de desprezar a importância de metas e realizações, mas qual o significado político e ideológico dessa comparação?

Destacou-se no debate, por exemplo, a diferença entre o contingente beneficiado pelo Bolsa Família (em torno de 50 milhões) e pelas iniciativas do governo Fernando Henrique Cardoso, que não ultrapassaram 10% desse total.

Seria, para Dilma, prova de que o empenho petista na redistribuição de renda é mais intenso. Mas nenhum programa, no começo, tem as dimensões que adquire passada uma década de sua implantação.

Não havendo discordância de princípio sobre a necessidade de ações sociais, o debate se transforma numa esgrima de dados, sem que fique clara a existência de escolhas políticas diversas no que tange à sua consecução.

Vetada a participação de jornalistas, Aécio e Dilma passaram ao largo de temas espinhosos para os dois, como os ajustes na Previdência e na estrutura tributária.

Sem ter sido agraciada pelo dom da oratória, Dilma dificilmente terá conquistado novos votantes. Mais seguro, nem por isso Aécio convenceu quanto ao que tem a oferecer. Acenou com a "libertação" do predomínio petista no plano nacional, mas cortejou a ideia de um ambiente político reconciliado.

A divisão, porém, permanece –sem que se saiba exatamente, em termos de perspectivas de governo, o que isso haverá de significar.


Endereço da página: