Folha de S. Paulo


Editorial: USP contra o muro

É chegado o momento de definições na Universidade de São Paulo, a mais importante instituição de pesquisa do país. Se não conseguir sair do fosso administrativo em que se meteu, mesmo recebendo R$ 5 bilhões no ano do governo estadual, continuará aprisionada num círculo vicioso.

É mais que bem-vindo, portanto, o plano de enxugamento do quadro de servidores da USP apresentado pelo reitor Marco Antonio Zago. Podem-se discutir os detalhes, mas está claro que houve expansão irresponsável do funcionalismo.

Se isso não for verdade em termos operacionais, por certo o é de um ponto de vista financeiro. A universidade compromete hoje 106% de sua receita anual com a folha de pagamentos. O descalabro gerencial dilapida seus fundos de reserva e compromete o que lhe resta da capacidade de investir.

Numa reação desligada da realidade, o sindicato dos funcionários afirma que o plano visa destruir a USP. Mas o que de fato corrói os alicerces da instituição é a subordinação de sua missão acadêmica e científica à politicagem corporativista que motiva as sucessivas greves na universidade.

Zago acredita ser factível economizar 6,5% da folha até 2016 se aderirem a seu programa de demissões voluntárias 2.800 dos 17.500 servidores que não são docentes.

Além disso, o reitor propõe entregar para a administração direta do Estado unidades como o Hospital Universitário, em São Paulo, e o Hospital de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais, em Bauru.

Será necessário, porém, convencer o Conselho Universitário do imperativo de agir o quanto antes. Se o colegiado até aqui se omitiu no dever de repor a USP nos trilhos, por que se moveria agora? Por instinto de sobrevivência, talvez.

Os vencimentos dos servidores subiram 80% nos últimos anos. O quadro de funcionários não docentes cresceu 13,75% de 2009 a 2013, e o número de alunos aumentou 5%. Há algo de errado nessas contas.

Hoje, a proporção é de pouco mais de cinco estudantes por servidor. Um número semelhante ao da Universidade Federal do Rio de Janeiro, que não é bem um exemplo de eficiência, e muito aquém do que se pratica nas conceituadas universidades britânicas (15:1).

Trata-se de relação abstrata, por certo, mas que deveria ser debatida no Conselho Universitário à luz do que a USP, como instituição, considera factível e se compromete a devolver para a sociedade em retribuição pelos recursos do contribuinte –se a universidade tivesse alguma clareza quanto a isso.

Não tem, pelo visto. Nada a estranhar numa comunidade acadêmica em que muitos parecem acreditar que o dinheiro nasce das árvores que ornamentam o campus da Cidade Universitária.


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