Folha de S. Paulo


Shinzo Abe: Japão-Brasil, por uma relação mais sólida

O Japão e o Brasil se localizam em lados opostos do globo terrestre, mas, ao longo de anos, construímos relações em várias áreas e estreitamos o intercâmbio entre os países. Nos últimos anos, baseados na relação de confiabilidade vivenciada, o Japão e o Brasil têm ampliado e fortalecido os laços.

Além disso, o Brasil e o Japão partilham de valores fundamentais, tais como a liberdade, a democracia, o respeito aos direitos humanos e ao Estado de Direito. O Japão pretende continuar colaborando com o Brasil não somente bilateralmente, mas também no cenário internacional.

Na área da economia, devido ao gigantesco mercado de 200 milhões de pessoas e às oportunidades de realização de grandes investimentos na área de melhorias de infraestrutura e de energia, o número de empresas japonesas no Brasil aumentou para cerca de 700. Durante a minha visita ao Brasil, pretendo impulsionar os negócios entre os dois países por meio de cooperações, como no treinamento de recursos humanos.

Um exemplo do intercâmbio entre os dois países é os famosos personagens de história em quadrinhos "Mônica" e o "Astro Boy". O criador da Turma da Mônica, Mauricio de Sousa, e o do Astro Boy, Osamu Tezuka, cultivaram amizade. Esses dois renomados autores atravessaram o oceano Pacífico para manter laços e, além disso, eu soube que criaram juntos obras nas quais seus personagens atuam conjuntamente.

Além das áreas político-econômica, a relação bilateral se tornou mais ampla devido ao intercâmbio nas áreas acadêmico-científica e de juventude-esportes, sendo um dos temas a serem tratados nesta visita o fortalecimento ainda maior de nossos laços. Gostaria de propulsionar a promoção do intercâmbio estudantil, além de alargar o intercâmbio esportivo com a realização dos Jogos Olímpicos e Paraolímpicos no Rio, em 2016, e os de Tóquio, em 2020.

Pensando nesses eventos esportivos, o nosso país tem tomado uma medida de contribuição internacional, por meio da promoção intitulada "Sport for Tomorrow" (esporte para amanhã, em inglês). Como parte dessa medida, junto de entidades privadas, pretendemos doar uniformes de judô, raquetes de tênis de mesa e kits de materiais para beisebol e softbol aos atletas brasileiros durante esta visita.

Não é possível falarmos da história do desenvolvimento das relações entre Japão e Brasil, sem mencionar o papel desempenhado pelos imigrantes japoneses e seus descendentes. Em 1959, quando meu avô, Nobusuke Kishi, visitou o Brasil pela primeira vez como primeiro-ministro do Japão, a comunidade nipo-brasileira era composta por 400 mil pessoas. Hoje, porém, constitui a maior comunidade existente no mundo –são 1,6 milhão de descendentes que atuam em diversas áreas. Gostaríamos de construir um relacionamento com estes que estão preparando a próxima geração.

Os países da América Latina abrigam um mercado de 600 milhões de pessoas e compõem parte primordial do motor que impulsiona o crescimento mundial da economia. Gostaria que o Japão fortalecesse ainda mais esse vínculo especial com os países latino-americanos no qual está baseado no histórico de amizade e solidariedade.

No plano econômico, após a formação do gabinete, a deflação em nosso país tem sido superada e a economia tem se revigorado pelo pacote de medidas conhecido como "as três flechas", composto pela "política monetária ousada", "política fiscal flexível" e "estratégia de crescimento que estimula o investimento privado". Por outro lado, a redução da população e o seu envelhecimento são temas urgentes, pois causam diversos impactos socioeconômicos, como a deterioração financeira por causa da redução da população ativa que sustenta o sistema de seguro social.

Nesse contexto, concomitantemente à revitalização econômica, estamos trabalhando para atingir a saúde fiscal, cujas metas são reduzir pela metade o deficit primário em 2015 em comparação ao de 2010, e alcançar o superavit em 2020.

Ainda, para tornar realidade o crescimento sustentável em um contexto no qual se intensifica o decréscimo da taxa de natalidade e o envelhecimento da população, vamos estimular o aumento da taxa de participação de mulheres no mercado de trabalho, bem como promover a vinda de estrangeiros do mundo todo que possuem altos níveis de qualificação e conhecimento.

Os descendentes de japoneses são o alicerce da confiabilidade em relação ao Japão e, portanto, esperamos que mais pessoas se motivem a ir trabalhar no Japão.

SHINZO ABE, 59, é primeiro-ministro do Japão


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