Folha de S. Paulo


Editorial: Moeda de troca

Ao assumir a Prefeitura de São Paulo, o petista Fernando Haddad nomeou funcionários de carreira, com perfil técnico, para o comando das subprefeituras, responsáveis pela zeladoria dos bairros.

A decisão correspondia a uma promessa de campanha –a de recuperar o prestígio funcional desses órgãos, que nas administrações anteriores serviram de cabide de emprego para apaniguados políticos ou coronéis aposentados da PM. Basta dizer que 30 das 31 prefeituras da gestão de Gilberto Kassab (PSD) chegaram a ser chefiadas por oficiais reformados.

A linha do novo mandatário, que tinha o mérito aparente de resistir ao loteamento da estrutura pública, foi desde o início bombardeada por setores da política, a começar pelo PT, que já preparava suas listas de candidatos aos cargos.

Não tardou, porém, para que essa orientação se revelasse flexível. Haddad nomeou para as chefias de gabinete das subprefeituras apadrinhados de vereadores e de partidos com representação na Câmara Municipal. A seguir, promoveu seis trocas de subprefeitos para contemplar o PT e aliados.

Recentemente, com dificuldades para aprovar o Plano Diretor, o prefeito cedeu ainda mais às pressões. Em apenas dois meses, de maio a junho, foram substituídos 13 subprefeitos. Ao menos seis deles são indicações de vereadores.

O secretário municipal de Relações Governamentais, Paulo Frateschi (PT), afirmou que a nova estratégia adiciona "traquejo" ao desempenho da função de subprefeito –ou, como admitiu, de maneira prosaica, "um pouquinho mais de expressão política".

Não é de hoje que a distribuição de cargos com vistas a garantir alianças partidárias e apoio parlamentar tornou-se, em todos os níveis, corriqueira no Brasil.

Tal procedimento, que poderia até ser admissível dentro de alguns parâmetros, se disseminou de modo abusivo, chancelando a chantagem e o fisiologismo como práticas correntes no sistema político. O governo federal, quanto a isso, é um mau exemplo acabado.

Seria ingênuo imaginar que a administração de Haddad pudesse se manter imune a essa realidade. Com seu prestígio em baixa (teve apenas 15% de ótimo/bom na mais recente pesquisa Datafolha), o prefeito precisa de apoio para aprovar suas propostas na Câmara.

Nesse contexto, as subprefeituras, mantidas inicialmente como uma espécie de "reserva", já retornaram ao mercado político na forma de moeda de troca.


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