Folha de S. Paulo


Alberto Goldman: O "volta, Lula" não é tão simples assim

No discurso oficial, governistas comemoram as pesquisas que mostram Dilma Rousseff (PT) reeleita no primeiro turno nas eleições deste ano. Ainda assim, o brado de petistas, aliados e demais aproveitadores da era PT –"volta, Lula"– começa a ecoar em Brasília.

Os mais experientes em processos eleitorais sabem que intenções de voto meses antes do pleito nada valem. Mesmo considerando-as hoje, o cenário não é bom para Dilma.

A presidente é a única candidata com alta taxa de conhecimento, e 56% não declaram voto nela neste momento. Entre os que conhecem bem os três principais candidatos, o cenário é menos favorável para a presidente. Isso sim é relevante, assim como a avaliação de seu governo.

O desgaste da presidente e o futuro melancólico vislumbrado na economia levam muitos governistas à procura da salvação de seus interesses pessoais. A solução seria chamar o ex-presidente Lula (PT) para assumir a candidatura e garantir mais quatro anos de retrocesso.

Para muitos –empresários inclusive–, seria a chance de deixar o barco que está afundando para se agarrar a um novo candidato que lhes pareça ter possibilidades de vitória e que garanta a manutenção de seus privilégios e benefícios. Lula seria o candidato –segundo eles, imbatível– de Dilma e da continuidade. No entanto, uma retrospectiva da história recente mostra que as coisas não seriam assim tão fáceis.

Após a redemocratização, nas eleições de 1989, tínhamos um governo José Sarney (PMDB) mal avaliado, o que levou a um segundo turno entre dois oposicionistas, Fernando Collor (então PRN) e Lula. Venceu Collor, que sofreu o impeachment e deu lugar a Itamar Franco. Este, bem avaliado devido ao sucesso do Plano Real, lançou Fernando Henrique Cardoso (PSDB) em 1994, que venceu Lula no primeiro turno naquele pleito e no seguinte, de 1998, por um FHC bem avaliado.

Em 2002, com a má avaliação de FHC, José Serra (PSDB) foi derrotado por Lula. Este, bem avaliado, foi reeleito em 2006 e, em 2010, conseguiu eleger Dilma Rousseff. Os bem avaliados venceram.

O mesmo padrão se repete nas eleições estaduais em São Paulo. Em 1982, Franco Montoro, do PMDB, de oposição ao regime militar, se elege contra o candidato da situação, Reinaldo de Barros (PDS). Em 1986, Montoro com boa avaliação elege Orestes Quércia (PMDB). Em 1990, Quércia, com boa avaliação, elege Luiz Antônio Fleury Filho (PMDB), contra a oposição de Paulo Maluf (então PDS). Em 1994, Fleury, mal avaliado, lança Barros Munhoz (PMDB), que é derrotado por Mario Covas (PSDB). Em 1998, Covas, com avaliação razoável, se reelege, derrotando Maluf e Marta Suplicy (PT). Em 2002, após assumir o governo com a morte de Covas e administrar bem, Geraldo Alckmin (PSDB) é reeleito, derrotando José Genoino, da oposição (do PT). Em 2006, Alckmin, com boa avaliação, elege o sucessor, José Serra (PSDB), e este, em 2010, bem avaliado, elege o sucessor, o próprio Alckmin.

Em praticamente todos os casos, seja com candidatura à reeleição ou com candidato de continuidade, vence o governo que tem boa avaliação. Perde quem não a tem.

Vai daí que, se a avaliação negativa de Dilma se confirmar –e já se esgotaram os efeitos especiais–, ela não se reelegerá nem terá condições de eleger sua continuidade, qualquer que seja o nome. Não é matemático, mas é um padrão dos processos eleitorais.

Lula está louco pra voltar, mas teme que os efeitos do reconhecimento do insucesso de Dilma coloque em risco o prestígio que adquiriu.

De uma coisa temos certeza: o PT vai cair atirando. Seu nível de escrúpulos é baixo e o seu compromisso com a democracia é tênue. Teremos muitas emoções.

ALBERTO GOLDMAN, 76, é vice-presidente nacional do PSDB. Foi governador de São Paulo (2010)

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