Folha de S. Paulo


Ronaldo Nazário: #100diaspraCopa

Faltando exatos #100diaspraCopa, várias perguntas vêm à mente dos brasileiros. Quem será nosso camisa 9? O craque será Neymar, Messi ou Cristiano Ronaldo? O atacante Klose, da seleção da Alemanha, vai bater o meu recorde de gols? Estaremos prontos? Qual é o legado da Copa? O dinheiro público investido deveria ir para outro lugar?

Jamais uma Copa do Mundo causou tanta expectativa. São muitas perguntas, mas gostaria mesmo de falar de uma certeza que tenho.

A Copa do Mundo precisa de investimentos e muito trabalho, mas rende frutos para o país e para a população, representando uma chance única de ter os olhos do mundo voltados para o Brasil por 32 dias.

Vamos imaginar que o país seja uma família e a sua renda mensal o Orçamento da União em 2014. Essa família tem uma renda mensal de R$ 2.480. Desse orçamento, R$ 188 vão para a saúde e educação dos filhos. Essa mesma família, nos últimos sete anos, sem qualquer prejuízo ao orçamento mensal, tirou R$ 3,90 da "poupança" e investiu num negócio, que vai gerar empregos e pagar impostos.

O "novo negócio" são os estádios da Copa. Segundo a matriz de responsabilidades publicada pelo Ministério do Esporte, R$ 3,9 bilhões do investimento total das arenas serão financiados pelo BNDES, sem qualquer relação com o Orçamento da União destinado à saúde e educação, que de acordo com dados oficiais só aumentou desde a escolha do Brasil como sede da Copa.

Valor semelhante está sendo investido diretamente nos estádios pelos governos locais, que viram na Copa uma oportunidade única de tirar do papel projetos de mobilidade urbana e infraestrutura, ganhar projeção internacional e lucrar com os R$ 25 bilhões que a Embratur estima que os turistas gastarão. E –por que não?– ter arenas multiuso que ofereçam a qualidade que nossos torcedores merecem.

Na semana passada, ao mesmo tempo em que se discutia em Porto Alegre o investimento de R$ 40 milhões em estruturas complementares necessárias para transformar o "gigante da Beira-Rio", do Internacional-RS, num estádio de Copa, um estudo do governo do Rio Grande do Sul mostrava que o evento deve significar um aumento de R$ 500 milhões no PIB gaúcho. Acho injusto que os investimentos feitos para a Copa não sejam colocados lado a lado dos números do retorno que o evento trará ao nosso país e às 12 sedes. Fora valores incalculáveis como o retorno de mídia espontânea gerado por um evento assistido por metade da população mundial.

A Copa se faz com estádios, sim. E sem escolas e hospitais, não se faz um país. Essas duas afirmações são complementares, não excludentes. Saúde e educação são áreas prioritárias: basta comparar os R$ 758 bilhões investidos nelas desde 2007, quando o Brasil comemorou a sua escolha como país-sede, com o investimento total de R$ 8 bilhões nos estádios. E é assim que deve ser.

Sim, vai ter Copa. Eu acredito no Brasil, dentro e fora de campo. Somos pentacampeões, mas também nos destacamos em biocombustíveis, exploração de petróleo, produção de aviões e temos uma agroindústria que alimenta boa parte do planeta. Realizamos com sucesso a ECO-92, a Rio+20 e a Copa das Confederações. Temos inúmeras celebrações regionais, uma das maiores festas de Réveillon do mundo e o Carnaval. Não tenho dúvidas de que temos competência para sediar uma grande Copa do Mundo.

O Brasil vem avançando muito, social e economicamente, e corrigindo desigualdades nos últimos anos. Precisamos continuar buscando um país melhor. Essa final se joga de dois em dois anos, e em outubro, não em julho. Não colocar os investimentos que a Copa está trazendo e acelerando em perspectiva é uma tremenda bola fora. Para mim, deixar de viver a maior festa do futebol na nossa casa também.

RONALDO NAZÁRIO, 37, ex-jogador, é membro do conselho de administração do Comitê Organizador Local (COL) da Copa do Mundo da Fifa

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