Folha de S. Paulo


A Copa é bom negócio para o Brasil? Sim

INCENTIVO DE IMPACTO

A Copa do Mundo é um evento de proporções globais, que gera grandes oportunidades para a economia do país que a sedia.

Do ponto de vista macro, induz o investimento em diversas áreas, o que pode ajudar o país a melhorar sua infraestrutura e a aumentar sua eficiência. Do ponto de vista micro, a Copa do Mundo abre as portas para empresas e empreendedores desenvolverem seus negócios, podendo fazer com que mudem de patamar permanentemente.

Marcelo Weishaupt Proni: Bom para quem?

No lado macro, o momento histórico para a Copa parece bastante oportuno. Nas últimas décadas, o Brasil amadureceu, tornando-se uma economia mais estável e equânime. O mercado consumidor floresceu, liderando o crescimento. Agora, o país enfrenta novos desafios. Infraestrutura e produtividade têm limitado o avanço da economia, deixando clara a necessidade de acelerar o investimento.

A Copa chega para ajudar, oferecendo oportunidades para impulsionar os investimentos e o desenvolvimento em diferentes setores. Obras de expansão dos aeroportos, mobilidade urbana e melhoria nas telecomunicações vêm sendo registradas nas 12 cidades-sede. Apesar de necessárias, dificilmente essas obras aconteceriam conjuntamente se não fosse o estímulo da Copa.

Talvez ainda mais relevante que o impacto macro, a Copa vem gerando efeitos microeconômicos importantes. Desenvolvimentos de longo prazo em indústrias e mercados podem surgir por causa do evento.

Um exemplo é a oportunidade que a Copa traz para o desenvolvimento do comércio internacional, tornando as empresas do país mais globalizadas. Isso é particularmente importante no Brasil, onde menos de 1% das exportações é realizada por pequenas e médias empresas.

Empresários de diversos setores vêm ao Brasil fazer negócios durante a preparação e a realização do evento. O empresário doméstico atento pode atar laços internacionais duradouros. A experiência internacional traz novas tecnologias, mais conhecimento e expansão do mercado consumidor.

A Copa estimula ainda empresas a treinarem seus funcionários para que atendam melhor seus clientes, inclusive aprendendo novos idiomas. O impacto na produtividade desse trabalhador pode ser substancial, e os ganhos salariais serão permanentemente maiores, especialmente em um país onde apenas uma parcela ainda muito pequena da população fala inglês.

Em alguns setores, as oportunidades são evidentes como, por exemplo, serviços (restaurantes, organização de eventos e transporte executivo), turismo e indústria esportiva. Se forem bem atendidas, as delegações estrangeiras que virão ao Brasil farão propaganda dos serviços que utilizarem em seus respectivos países, criando uma demanda cativa de longa duração.

Edições passadas indicam que o fluxo de turistas pode se elevar permanentemente. Mostram ainda que os novos estádios e o clima da Copa têm um efeito de longa duração sobre o interesse da população no espetáculo e na prática esportiva.

Em suma, a Copa é um evento de grandes proporções, mexe com a confiança de empresários e de consumidores e coloca o país na rota internacional dos negócios.

Oferece aos brasileiros grandes oportunidades, que, se bem aproveitadas, podem trazer ganhos duradouros. E pode ajudar, de alguma maneira, o país a enfrentar os desafios macroeconômicos que deverá encarar pela frente.

CAIO MEGALE, 38, economista formado pela USP, com mestrado pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, é economista do Itaú Unibanco

*

PARTICIPAÇÃO

Para colaborar, basta enviar e-mail para debates@uol.com.br.

Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo.


Endereço da página:

Links no texto: