Folha de S. Paulo


Benedito G. Aguiar Neto: Para valorizar o Enade

O programa Ciência sem Fronteiras concederá mais de 100 mil bolsas de estudo no exterior em quatro anos --os alunos de graduação devem alcançar nota mínima de 600 pontos no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) para desfrutar do benefício.

A nova exigência de nota mínima no Enem não dispensa os demais critérios de elegibilidade, como mérito acadêmico, homologação pelo Ciência sem Fronteiras e proficiência em idioma.

Porém, é inegável que o Enem, organizado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), ganha mais um item de valorização diante dos alunos, que já o têm como ponte para o ingresso nas universidades, política que a Universidade Presbiteriana Mackenzie adotou em seus processos seletivos.

Não é sem razão, portanto, que as inscrições em 2013, segundo o Ministério da Educação, tenham estabelecido recorde, com 7.834.024 candidatos. Detalhe relevante: o Enem não é obrigatório!

Em contrapartida, o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade), também organizado pelo Inep, é componente curricular compulsório. Os concluintes dos cursos avaliados a cada ano que não comparecem não recebem seus diplomas de graduação.

O Enade é obrigatório, mas, na visão pragmática de numerosos jovens, não agrega valor nem os estimula. Causa espécie que, em sendo conteúdo curricular, sua nota não seja inserida no histórico escolar do aluno. Se fosse, provavelmente a visão de muitos quanto à sua importância seria mais positiva.

Há, ainda, um fator desfavorável que pode agravar o desvio de foco dos estudantes quanto ao Enade: realiza-se num período no qual o graduando está produzindo sua monografia ou trabalho de conclusão de curso, que lhe exige dedicação.

Nos anos em que as faculdades de direito incluem-se entre as avaliadas, é mais grave ainda, pois há coincidência com o exame da OAB, como ocorreu em 2012 --poucos dias separaram as duas provas.

Diante desse quadro, restam ao estudante poucas oportunidades. Entre a boa nota no trabalho de conclusão de curso, a aprovação num exame que lhes permitirá exercer sua profissão e o Enade, é comum que optem por aquilo que menos os impacta. Há aqueles, porém, mais comprometidos com a instituição, que entendem, de modo muito correto, que quanto maior a média de notas, mais prestigiado será o seu diploma; e os que se sentem responsáveis pela perenidade e credibilidade de seus cursos.

Herman Tacasey

Esses e outros motivos podem justificar o anúncio de ontem do Ministério da Educação de que 30% dos cursos alcançaram nota 1 ou 2 no Enade, resultado considerado insatisfatório e que demanda providências das instituições cujos cursos foram assim avaliados.

A despeito desses preceitos de cidadania e ética, a serem permanentemente cultivados, é necessário que o Enade, no cumprimento de sua importante missão de avaliar as instituições e aperfeiçoar o ensino superior, garanta qualidade e transparência dos serviços educacionais.

A nota de Enade é das mais importantes variáveis para o cálculo do conceito de um curso, e as médias obtidas são utilizadas na avaliação institucional, por meio do IGC (Índice Geral de Cursos), do Inep.

Portanto, de modo a valorizar o Enade e torná-lo representativo em eventuais comparações de resultados, é fundamental que tenha seu significado reconhecido. Introduzir o resultado no histórico do aluno parece ser medida natural para atingir esse objetivo.

Outra providência quanto à valorização da nota do Enade seria utilizá-la como um dos critérios de avaliação para concessão de bolsas e financiamentos com recursos públicos destinados à formação continuada após a graduação, como o Ciências sem Fronteiras.

BENEDITO GUIMARÃES AGUIAR NETO, 58, engenheiro elétrico pela Universidade Federal da Paraíba, é reitor da Universidade Presbiteriana Mackenzie e presidente da Associação Brasileira de Instituições Educacionais Evangélicas

*

PARTICIPAÇÃO

Para colaborar, basta enviar e-mail para debates@uol.com.br.

Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo.


Endereço da página:

Links no texto: