Folha de S. Paulo


Editorial: Pnad ambivalente

Apesar do ciclo de baixa no ritmo de crescimento econômico, o rendimento médio dos brasileiros aumentou 5,6% de 2011 para 2012, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), realizada no ano passado.

Ficou maior também o acesso da população a bens de consumo como computadores, automóveis e eletrodomésticos.

Chama a atenção que a desigualdade de renda tenha deixado de diminuir, depois de uma década de melhoras expressivas. No entanto, tal indicador de iniquidade social, relativo a apenas um ano, não diz muito sobre a tendência geral.

Em suma, há resultados notáveis e sinais de alerta.

É notável, ressalte-se, que dois anos de desempenho pífio da economia não tenham causado danos maiores à qualidade de vida média dos brasileiros.

O alerta decorre desse contraste: não é possível que os progressos na renda, no consumo e na oferta de serviços públicos sustentem-se sem a retomada de ritmo acelerado de crescimento econômico.

As evidências dessa impossibilidade têm aparecido na renitência da inflação e no crescente deficit externo --indicador de consumo excessivo em relação à capacidade produtiva da economia.

Além do mais, não é possível esperar que, dados o ritmo de evolução do PIB, a receita de impostos e o nível de endividamento do governo, seja possível ao menos sustentar as transferências sociais de renda que contribuíram para a redução da pobreza e da desigualdade.

O Brasil precisa voltar a crescer ao dobro do ritmo verificado nos anos Dilma Rousseff. Para tanto, uma das condições é o aumento da poupança e do investimento, sem o que haverá carestia e deficit externos crescentes e, enfim, estagnação. Para a restrição ao consumo pesar menos sobre a população, o governo precisa cortar despesas.

Não haverá crescimento duradouro sem que o progresso da educação seja acelerado. A Pnad mostra de novo que o tempo médio de estudo, em má escola, avança pouquíssimo, o que deixa o Brasil nas últimas posições mesmo em classificações latino-americanas.

No entanto, inexiste um programa de médio prazo de reorganização das contas públicas. Não se vê o governo liderar uma reforma do ensino, decerto atribuição básica de Estados e municípios, mas que não avançará sem incentivos e coordenação federal.

O Brasil viveu um ciclo de melhorias sociais inéditas, sem dúvida. Não se preparou, contudo, para o esgotamento dos recursos necessários à continuidade do progresso, tampouco faz planos de poupar e investir mais, e instruir-se mais e melhor.


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