Folha de S. Paulo


Editorial: Além da linha vermelha

Ao menos na retórica, o presidente americano, Barack Obama, aumentou a pressão sobre o ditador da Síria, Bashar al-Assad.

O governo dos Estados Unidos afirmou na semana passada que o regime sírio cruzou uma "linha vermelha" ao usar armas químicas contra os rebeldes. De 100 a 150 pessoas teriam morrido em ataques com o gás sarin (agente paralisante que dificulta a respiração).

Em resposta, um conselheiro de Segurança Nacional dos EUA anunciou que o país aumentará a ajuda aos insurgentes sírios. Ainda em 2012, Obama havia dito que passar daquela linha seria inaceitável.

Embora não esteja claro como esse auxílio será incrementado, parece certo que o tom mais assertivo de Washington é um aviso para Vladimir Putin, presidente da Rússia e principal aliado de Assad.

Em maio, as duas potências haviam acordado a realização de uma conferência de paz sobre a Síria, mas o encontro continua sem data marcada. A indefinição favorece Assad, que tem obtido vitórias contra os revoltosos, e Putin, fornecedor militar de Damasco.

Nesta semana, Obama e Putin tiveram encontros tensos na reunião de cúpula do G8. Por pressão da Rússia --único membro do grupo a apoiar o regime sírio--, o documento sobre os confrontos não fez menção direta a Assad. Houve apenas a promessa vaga de incentivar uma solução negociada.

Com o conflito aparentemente longe de terminar, cresce a expectativa quanto ao novo apoio militar americano em favor dos rebeldes. Zonas de exclusão aérea poderiam funcionar, mas a venda direta de armas aos insurgentes tornou-se uma operação arriscada.

Se armas leves resultariam inócuas diante do arsenal sírio, as pesadas poderiam cair em mãos erradas. Uma das forças na fragmentada oposição a Assad tem vínculos com os terroristas da Al Qaeda.

Sem um acordo, o fracasso diplomático se traduz em mais mortes nas zonas de confronto. Segundo estimativa da ONU, já são 93 mil vítimas desde que os combates começaram, há 27 meses. Um ano atrás, eram 10 mil mortos.

Mais de duas décadas após o fim da Guerra Fria, Moscou e Washington poderiam empenhar-se mais para dissolver conflitos em que se posicionam de lados opostos --a exemplo da promessa de redução do arsenal atômico feita anteontem por Obama em Berlim.


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