Cinquenta milhões de eleitores iranianos estão convocados às urnas hoje para escolher o sucessor de Mahmoud Ahmadinejad na Presidência da república islâmica.
Impedido de concorrer por ter cumprido dois mandatos seguidos, o polêmico presidente deixa um legado de crescente isolamento internacional e crise econômica.
Ahmadinejad também será lembrado pelos reiterados desafios à autoridade do líder supremo, aiatolá Ali Khamenei, detentor da palavra final no regime. No fim do segundo mandato, o presidente questionou até as fundações teocráticas do Estado ao preconizar uma relação direta com Deus e uma volta à identidade persa pré-islâmica.
Khamenei agora procurou pavimentar o caminho para a eleição de um mandatário dócil e discreto. Evidência disso é a decisão das autoridades constitucionais de vetar candidaturas de um aliado de Ahmadinejad e de um ex-presidente centrista, vistos como ameaça ao status quo.
Para o primeiro turno, restaram seis candidatos, com o favoritismo dividido entre três conservadores: o prefeito de Teerã, Mohamad Qalibaf, o assessor diplomático do líder supremo, Ali Akbar Velayati, e o negociador nuclear Said Jalili. A oposição reformista apoia Hasan Rowhani, clérigo centrista que chefiou negociações nucleares pré-Ahmadinejad.
Todos admitem que a inflação descontrolada e o desemprego são a maior preocupação dos iranianos. Afirmam ainda que o problema é causado, em grande parte, pelas sanções ao programa nuclear. Enquanto Jalili prega resistência às pressões e sacrifícios em nome da ideologia revolucionária, os outros três defendem maior pragmatismo.
Céticos lembram que decisões sobre o programa nuclear e outros temas estratégicos são monopólio do líder supremo. Mas o presidente tem funções importantes. Cabe a ele, por exemplo, conduzir a política econômica e administrar infraestrutura e saúde pública.
O presidente ainda possui relativa autonomia diplomática. A aproximação com a América Latina se deu por impulso de Ahmadinejad --candidatos a sua sucessão não demonstram interesse pela região, com exceção de Jalili.
O tom na agenda externa também é definido pelo presidente. No governo reformista de Mohamad Khatami (1997-2005), chanceleres da União Europeia visitavam Teerã. Ahmadinejad gerou repulsa ocidental por questionar o Holocausto e pregar o fim de Israel.
Não é pequena a importância das eleições de hoje. Acima de tudo porque o novo presidente poderá permitir abordagem mais construtiva nos esforços para desemperrar o imbróglio nuclear.