Folha de S. Paulo


Editorial: Trens atrasados

Tornaram-se rotineiros os atrasos em investimentos nas linhas de trens e metrô de São Paulo. Datas de inauguração de estações ou de renovação de equipamentos são descumpridas regularmente, como se não representassem compromissos com a população, mas apenas objetivos fictícios a serem postergados ao sabor das morosidades administrativas.

Os adiamentos --conforme noticiou-se nos últimos dias, com base em documentos do governo estadual-- referem-se a aspectos essenciais para a ampliação e a modernização do sistema, como a oferta de energia, insuficiente para atender à crescente demanda.

No caso da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos), contam-se 12 obras com atraso médio de um ano e oito meses.

No Metrô, o panorama não é mais animador. A modernização da frota da linha 3-vermelha, por exemplo, que deveria ter atingido 29 trens no ano passado, ficou em apenas sete --quadro semelhante ao que se verifica na linha 1-azul. Tampouco cumpriu-se o prazo da anunciada segunda fase da linha 4-amarela e da extensão da linha 5-lilás.

Outros casos poderiam ser listados, bem como a longa série de panes e falhas, que atrapalham a vida e ameaçam a segurança dos usuários desses transportes.

Não há dúvida de que a ampliação da rede e o vertiginoso aumento da quantidade de passageiros representam uma dificuldade a mais para os responsáveis pela gestão.

Entre outros fatores, a implementação do Bilhete Único e a relativa melhoria da qualidade do transporte sobre trilhos ajudaram a promover, entre 2006 e 2012, um salto de 63% no número de usuários na CPTM e de 44% no Metrô. Somadas, as malhas de trens metropolitanos conduzem cerca de 6,8 milhões de pessoas por dia.

Considerando-se o descaso com que o transporte público, em especial o ferroviário, foi tratado (no país e em São Paulo) em décadas anteriores, tem-se um cenário crítico, que exige esforço redobrado dos gestores. Além da necessidade de ampliar e modernizar o sistema em ritmo acelerado, é preciso não descurar da manutenção dos antigos e dos novos equipamentos.

O que se observa em São Paulo é uma preocupante dificuldade de cumprir a contento essas tarefas. Falta realismo ou acompanhamento mais acurado nos cronogramas --impressão acentuada pelo fato de que são os prazos estipulados pelo próprio governo que deixam de ser cumpridos.


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