Folha de S. Paulo


Editorial: Um ano de Hollande

O presidente francês, François Hollande, não tem muito o que comemorar no primeiro aniversário de seu governo. Acuado pela economia derrapante, pelo desemprego em alta e por um ruidoso escândalo envolvendo o alto escalão, sua administração sofre com impopularidade recorde e demonstra ter cada vez menos fôlego para se recuperar.

Primeiro líder socialista francês a conquistar o poder em 17 anos, Hollande tem uma taxa de aprovação de 24%, segundo pesquisa do instituto Ifop do final do mês passado. É um índice mais baixo que o de qualquer outro presidente do pós-guerra ao final do primeiro ano de mandato --e muito distante dos 61% de satisfeitos com Hollande logo após sua eleição.

A principal decepção está na economia. A França cresceu apenas 0,1% no primeiro trimestre, índice que será mantido até o final do ano, segundo se prevê. O número de pessoas em busca de emprego chegou a 3,2 milhões em fevereiro, o mais alto em 16 anos.

Vários outros indicadores alimentam o pessimismo: em 2012, o poder de compra familiar sofreu a primeira queda em três décadas; as exportações do país crescem a taxas bem menores que as de vizinhos europeus; a confiança dos empresários caiu vertiginosamente nos últimos meses.

O resultado pífio acirrou as críticas à esquerda, com sindicatos e outros grupos acusando Hollande de não cumprir a promessa de evitar demissões em massa nas grandes empresas. No domingo, dezenas de milhares de manifestantes ligados a essas organizações ganharam as ruas de Paris para protestar contra o presidente.

Já conservadores e católicos franceses têm promovido outra série de protestos barulhentos contra a legalização do casamento entre pessoas do mesmo sexo, legislação promovida por Hollande.

Além das promessas não cumpridas e da delicada situação econômica, o socialista enfrentou um grande escândalo em torno de seu ex-ministro do Orçamento, Jérôme Cahuzac, que admitiu recentemente ter mentido durante meses sobre a existência de uma conta secreta na Suíça que guardava o montante de US$ 780 mil.

Com tanto desgaste e protestos, não é de estranhar que 70% dos franceses acreditem na probabilidade de uma "explosão social" nos próximos meses, segundo a mesma pesquisa Ifop. Com quatro anos de mandato ainda pela frente, o governo de Hollande parece ter chegado cedo demais a um beco sem saída, sem dúvida com a ajuda da crônica crise europeia.


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