Folha de S. Paulo


Grupo defende boicote internacional a novo governo austríaco

Dominic Ebenbichler - 15.out.2017 /Reuters
Sebastian Kurz comemora sua vitória nas eleições de outubro em Viena (Áustria)
Sebastian Kurz comemora sua vitória nas eleições de outubro em Viena (Áustria)

Um grupo encabeçado pelo ex-ministro francês das Relações Exteriores Bernard Kouchner publicou uma carta aberta no jornal "Le Monde" pedindo um boicote internacional contra o novo governo austríaco, repetindo uma tática adotada contra esse mesmo país há 17 anos.

Segundo os proponentes da punição, entre os quais está também a ex-primeira-ministra canadense Kim Campbell, "os herdeiros do nazismo voltaram ao poder". O gabinete do chanceler austríaco, Sebastian Kurz, inclui seis ministros de um partido de extrema direita.

Kurz, do conservador ÖVP (Partido Popular), chegou ao poder após vencer a eleição de outubro e firmar, dois meses depois, um acordo com a sigla extremista de direita FPÖ (Partido da Liberdade).

A carta pede que líderes internacionais não recebam os membros do gabinete que pertençam ao populista FPÖ, mas o isolamento da Áustria seria mais complicado durante a segunda metade de 2018, quando esse país deve assumir a presidência rotativa do Conselho da União Europeia – algo que os signatários da carta querem também boicotar.

"Pedimos que esse governo austríaco seja banido na Europa", diz o texto. "Na prática, isso significa que os ministros de extrema direita não devam ser recebidos por nenhuns de seus homólogos europeus, que não devem participar de nenhuma reunião ou encontro com eles."

Além de Kouchner e Campbell, outros signatários de peso do pedido de boicote são o prêmio Nobel da Paz do Timor Leste José Ramos-Horta, o renomado caçador de nazistas Serge Klarsfeld e o ex-ministro espanhol das Relações Exteriores Miguel Ángel Moratinos.

No texto, eles condenam "o silêncio e apatia" da Europa após a formação do governo de Kurz. O FPÖ é conhecido por sua plataforma aversa a estrangeiros – e por ter sido fundado depois da Segunda Guerra (1939-1945) por um ex-membro do grupo paramilitar nazista SS.

A presença do FPÖ já levou a um boicote contra a Áustria, liderado em 2000 pelo português António Guterres, que é hoje secretário-geral da ONU. À época diversos países europeus adotaram boicotes unilaterais contra o chanceler conservador austríaco Wolfgang Schüssel.

31 ANOS

O conservador Kurz não lidera apenas o único governo com um partido ultranacionalista no oeste europeu, mas é também o líder mais jovem da Europa, com apenas 31 anos. Apesar do populismo que marca seu gabinete, não há planos de romper com a UE, em divergência com outras forças nacionalistas que disputaram eleições neste ano no continente.

Ciente da insatisfação de alguns de seus vizinhos europeus, Kurz fez diversas declarações conciliatórias nas últimas semanas – incluindo uma condenação ao antissemitismo – e, num gesto calculado, foi a Bruxelas em sua primeira viagem internacional como chanceler.

Em reação à carta publicada no "Le Monde", o secretário-geral do FPÖ, Harald Vilimsky, disse que o boicote é uma "manobra óbvia" da "esquerda unida" para ferir o novo governo austríaco.


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