Folha de S. Paulo


Venezuela tem 69 veículos de mídia fechados em 2017, diz sindicato

Ueslei Marcelino - 26.jul.2017/Reuters
Policiais em protesto contra o governo Maduro em Caracas, em julho
Policiais em protesto contra o governo Maduro em Caracas, em julho

Emissoras de rádio e TV tiradas do ar e jornais sem papel: 69 meios de comunicação fecharam na Venezuela em 2017 em meio a uma escalada de agressões contra jornalistas, afirmou o principal sindicato do setor nesta quarta-feira (27).

A lista inclui 46 rádios, 3 emissoras de televisão e 20 jornais, detalhou o SNTP (Sindicato Nacional de Trabalhadores da Imprensa, na sigla em espanhol) em seu balanço anual.

O SNTP registrou 498 agressões e 66 detenções contra jornalistas neste ano, e atribuiu ao governo a "intenção" de "silenciar, a qualquer preço, o descontentamento pela cada vez mais crítica situação econômica e social", com hiperinflação e escassez de alimentos e remédios.

A cifra aumentou 26,5% em relação a 2016, quando foram contabilizados 360 ataques, acrescenta o relatório.

O sindicato também denunciou que dois repórteres do meio de comunicação regional Unicable TV, em Margarita (norte), foram retidos por três horas por agentes da militarizada Guarda Nacional quando cobriam um protesto pelo desabastecimento de comida.

Segundo o SNTP, a maior parte das agressões (273 dos 498 casos) ocorreu durante os protestos contra o presidente Nicolás Maduro, que deixaram 125 mortos.

"Utilizando o braço e as armas da Guarda Nacional e as polícias regionais e municipais, a burocracia oficial tentou invisibilizar o conflito", acrescentou.

A Relatoria para a Liberdade de Expressão da Comissão Interamericana de Direitos Humanos fez "um chamado urgente" este ano a restabelecer as transmissões das emissoras de rádio e TV "retiradas do ar", e qualificou as medidas como um "castigo" por sua "linha editorial crítica".

O governo se declara vítima de "uma campanha de desprestígio" em meios locais e estrangeiros.

O fechamento de meios audiovisuais tem como causa o vencimento de suas concessões para o uso de frequência, que a imprensa diz serem concedidas arbitrariamente.

Já os jornais sofrem com a escassez de papel, cuja importação e distribuição são monopólio de uma corporação governamental.

Cerca de 20 jornais se viram obrigados a suspender suas tiragens permanente ou temporariamente; de acordo com o SNTP todos os jornais que restam tiveram que limitar sua paginação e circulação.

Já a ONG Espacio Público, que defende os direitos humanos e a liberdade de expressão, conta em seu último relatório seis meios impressos fechados no ano de 2017.

Meios internacionais também se viram afetados. A CNN en Español e as televisões colombianas Caracol TV e RCN foram retiradas da grade de programação das operadoras a cabo por ordem do governo.


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