Folha de S. Paulo


ANÁLISE

Votação explicita o racha na Catalunha

Pesquisa recente mostra que 58,4% dos catalães acham que o debate sobre a independência da Catalunha danificou seriamente a convivência entre eles.

A eleição desta quinta-feira (21), que poderia servir para passar um bálsamo nessa ferida social, não mudou rigorosamente nada. Apenas explicitou o racha na sociedade catalã.

O resultado foi até bizarro: o partido mais votado (C's ou Cidadãos) era o mais decididamente contrário à independência, mas a soma das cadeiras atribuídas aos partidos pró-independência superou a maioria absoluta (70 das 168 cadeiras no Parlamento).

Em número de votos, nenhum dos dois lados conseguiu a maioria absoluta: os independentistas ficaram mais perto (quase 48%), mas a maioria absoluta ficaria com os adversários da independência, se se somar aos votos dos três partidos que seguem essa linha os sufrágios de Catalunha em Comum, grupo formado de baixo para cima e que elegeu a prefeita de Barcelona, Ada Colau.

Ficou, agora, com 7%. Como são favoráveis à independência, mas contrários a uma declaração unilateral como a que foi feita pelos três grupos que governavam a região até a intervenção do governo central, é razoável somá-los ao conjunto que é contra violar a lei espanhola para chegar à independência.

A maioria dos independentistas em cadeiras –o que lhe dá direito, em tese, a formar governo, se conseguirem se entender– é muito reduzida (apenas duas cadeiras acima dos 50% mais 1). Se os independentistas mostrarem agora o bom senso que nunca tiveram no processo políticos dos últimos anos, entenderão que uma maioria tão minúscula é reduzida até para formar governo –afinal, o objetivo formal da eleição–, quanto mais para dar um passo tão extremo como é separar-se da Espanha.

Afinal, governo é apenas para os próximos quatro anos, ao passo que a independência é para o resto da vida —um passo que o bom senso recomenda não dar quando a metade da sociedade é contra.


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