Folha de S. Paulo


Madri acredita que ameaça de independência da Catalunha acabou

A eleição catalã na quinta-feira (21) está parecendo confusa e inconclusiva, mas autoridades em Madri declaram que pelo menos uma coisa é certa: a direção da independência da região perdeu seu rumo.

No mês passado o governo nacional espanhol tomou o controle direto da Catalunha, removeu o governo local e convocou novas eleições em resposta à declaração de independência unilateral do Parlamento regional.

Madri diz que apesar da eleição acirrada, o governo nacional sabe que pode simplesmente repetir o processo eleitoral se os políticos catalães fizerem outra tentativa de criar uma nova republica.

"Se eles tentarem e fizerem um outro movimento de independência, eles enfrentarão as mesmas consequências," diz Pablo Casado, porta-voz do governista Partido Popular, de centro-direita."Eles sabem que têm que trabalhar dentro da lei e da Constituição agora."

No fim de semana a vice-primeira-ministra da Espanha, Soraya Sáenz de Santamaría, destacou as repercussões legais de uma tentativa do movimento separatista, referindo-se aos lideres catalães, atualmente na prisão, aguardando julgamento por rebelião e sedição depois da última tentativa.

"Separatistas não têm lideres, hoje, porque eles foram decapitados," ela disse, acrescentando que o Partido Popular trabalharia para "continuar liquidando o movimento de independência" na Catalunha.

Também parece que os principais partidos pró-independência tenham sido intimidados, pelo menos temporariamente, pela bem sucedida imposição de um controle direto por Madri, além da falta de apoio internacional à declaração de independência.

Em uma entrevista para o jornal "Financial Times", Marta Rovira, secretaria-geral da Esquerda Republicana —partido pró-independência de centro-esquerda—, disse que o foco será no "dialogo" com Madri e que não há planos para novas "declarações simbólicas" de independência.

Durante a campanha eleitoral, ela não descartou uma futura independência unilateral, mas deixou claro que isso não era o foco do partido. O outro principal partido separatista, o Juntos por Catalunha, disse que a independência é o objetivo, mas permaneceu vago em como isso seria alcançado.

Em uma entrevista para a Ràdio Catalunya na terça-feira (19), Carles Puigdemont, ex-presidente Catalão e lider do Juntos por Catalunha, prometeu o fim da regra direta pela Espanha e um movimento para libertar os lideres separatistas. Ele pediu aos eleitores para não legitimar a "decapitação" do governo pela Espanha. Mas ele não fez menção a outro movimento de independência unilateral.

"Os partidos separatistas têm um foco um pouco diferente agora, e para o momento não estão pressionando publicamente por um outro movimento de independência unilateral do tipo que vimos em outubro," diz Pablo Simón, professor de ciência politica na Carlos III Universidade de Madri.

Mas analistas dizem que apesar da a ameaça existencial ter acabado por enquanto, Madri ainda enfrenta enormes dificuldades na Catalunha após a eleição desta quinta, particularmente se os partidos pró-independência conquistarem a maioria absoluta do Parlamento.

A vitória dos três partidos pró-independência quase certamente levaria a outro período de tensão prolongada, o que poderia prejudicar a economia espanhola que já foi atingida pelos eventos de outubro.

Alguns do lado pró-independência privadamente dizem que se vencerem, pretendem iniciar uma campanha de desobediência contra Madrid, tomando decisões que empurrem as fronteiras da legalidade e mantenham a pressão sobre o governo nacional.

"Nós vamos manter a luta de diferentes maneiras," diz uma pessoa próxima ao movimento de pró-independência em Barcelona, que não quis ter o seu nome divulgado por medo de estar sendo vigiada pelas autoridades espanholas.

Já Simón diz que "se os partidos pró-independência ganharem a maioria, isso poderia levar a um tipo de cenário de Guerra Fria entre Barcelona e Madri"."Pode não haver um movimento imediato unilateral para a independência, mas não haverá também negociação normal como antes".

Pesquisas mostram que uma vitória dos três partidos pró-independência na quinta é possivel. Mas o cenário mais provável é que nem eles e nem os partidos anti-independência conquistem a maioria parlamentar.

Se os partidos pró-independência não conseguirem ganhar a maioria, o que conquistaram nas eleições de 2015, isso será visto como uma vitória em Madri.

Mas ao mesmo tempo, analistas dizem, a eleição fará pouco para evitar a tensão fundamental entre os lados pró e anti-independência na Catalunha, o que continuará a ameaçar a estabilidade da região.

"No fim os partidos pró-independência irão ganhar por volta de 45% dos votos, e isso não será muito diferente da última eleição," diz Oriol Bartomeus, cientista politico da Autonomous Universidade em Barcelona.
"Todos os problemas e tensões na Catalunha ainda vão continuar."


Endereço da página:

Links no texto: