Folha de S. Paulo


Líder conservador faz acordo e leva extrema direita ao poder na Áustria

Um pacto firmado nesta sexta (15), em Viena, entre a direita e a extrema direita fará da Áustria o único país da Europa Ocidental com ultranacionalistas no governo.

Isso porque o ÖVP (Partido Popular), do líder conservador Sebastian Kurz, fechou aliança com o populista FPÖ (Partido da Liberdade Austríaco), de extrema direita.

O entendimento começou a se desenhar após a eleição de outubro, quando o ÖVP venceu e encampou discurso de aversão a imigrantes que o aproximava do FPÖ, liderado por Heinz-Christian Strache e terceiro colocado no pleito.

Agora, o ÖVP passa a ter maioria dos votos no parlamento. A coalização marca a volta da extrema direita ao governo em mais de dez anos –fez parte de 2000 a 2005– e foi informada ao presidente Alexander Van der Bellen.

Kurz, que se tornará primeiro-ministro e será o mais jovem líder da Europa -tem 31 anos-, e Strache deixaram claro que um dos principais pontos da união é evitar maior relação com a União Europeia (UE) nas questões sociais, sem para isso romper com o bloco. O futuro premiê afirmou que não está em seus planos promover um referendo sobre a permanência do país no grupo europeu.

Ele também disse que se concentrará no corte de impostos e na questão da segurança, incluindo a luta contra a imigração ilegal.

Apesar de o FPÖ insistir em se distanciar de posições vinculadas ao nazismo, ainda existe desconfiança.

O líder Strache, por exemplo, já disse publicamente que o antissemitismo é crime e até visitou memorial às vítimas do Holocausto em Israel. Mas, por outro lado, foi detido quando jovem por participar de um protesto de um grupo neonazista ilegal.

VISEGRAD

O FPÖ -assim como a alemã AfD ou a francesa Frente Nacional- baseia a sua plataforma na aversão aos estrangeiros e ao islamismo.

Entre as bandeiras defendidas pelo partido estão impedir estrangeiros de receber benefícios sociais e levar a Áustria para o Visegrad, que inclui Hungria, Polônia, República Tcheca e Eslováquia -países em atrito com a UE devido à política migratória.

Fundada após a Segunda Guerra Mundial por Anton Reinthaller, ex-membro do grupo paramilitar nazista SS, a sigla quase chegou à Presidência em 2016, mas foi derrotada por Alexander Van der Bellen, apoiado pelo Partido Verdes, em disputa acirrada.

Quando o FPÖ entrou pela primeira vez no governo, com Jörg Haider (morto em 2008), países europeus impuseram sanções contra Viena, pelo fato de Haider elogiar as políticas de emprego de Hitler.

Com a coalização de agora, o FPÖ está cotado para assumir as pastas de Relações Exterior, do Interior e da Defesa -o ÖVP ficará com Finanças, Justiça e Agricultura.

O presidente Van der Bellen, cuja vitória em 2016 representou um alívio às preocupações do bloco europeu diante do populismo que crescia, afirmou, em encontro com Kurz e Strache, que, devido às negociações encaminhadas desde a eleição, que a Áustria seguirá na UE.

Além da divisão dos ministérios, Kurz, que será empossado na próxima segunda (18), informou que o executivo do setor de seguros Hartwig Loeger, 52, que dirige a Uniqa, será o ministro das Finanças da Áustria.


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