Folha de S. Paulo


Chegada de imigrantes muda Santiago e divide candidatos no Chile

Um dos temas de campanha no Chile neste segundo turno é a chegada cada vez mais numerosa nos últimos anos de imigrantes, sobretudo do Haiti e da Venezuela. Mudanças na política de admissão de estrangeiros e de concessão de vistos de residência e trabalho foram um dos pontos de maior controvérsia no último debate entre os dois postulantes ao cargo, na semana passada.

O governista Alejandro Guillier afirmou que o Chile, apesar de ser o país latino-americano no qual o número de estrangeiros mais subiu de 2010 a 2015, ainda tem uma cifra baixa ante outros países.

Martin Bernetti/AFP
Imigrantes haitianos participam de evento de campanha do ex-presidente Sebastián Piñera em Santiago
Imigrantes haitianos participam de evento de campanha do ex-presidente Sebastián Piñera em Santiago

Afirmou ainda que o atual sistema —em que os estrangeiros entram com visto de turista e, após obter um contrato de trabalho, mudam de status— "não é o ideal, mas tampouco faz sentido deportar em massa, pois não combina com nossos valores".

Já o ex-presidente Sebastián Piñera, de centro-direita, concordou com o fato de o Chile ter "uma tradição de receber estrangeiros".

"Mas precisamos endurecer nossas leis. Queremos abrir as portas aos que fazem bem ao Chile, que querem trabalhar, integrando-se à nossa sociedade. Vamos fechar as portas aos que vêm para delinquir, formar quadrilhas de narcotráfico ou de tráfico de pessoas", afirmou.

A imigração haitiana é a mais volumosa atualmente, multiplicando os tons de pele num país cuja população era tradicionalmente branca. Os haitianos que chegam, ou os de segunda geração, nascidos aqui, são chamados de "chiletianos". Vieram em diversas levas, fugindo primeiro das consequências do terremoto de 2010 e da pobreza.

Em geral, o percurso que fazem é por avião, desde a República Dominicana. Ao chegar, se instalam em bairros ou comunidades onde há compatriotas. Os principais são Quilicura (apelidado de Haitícura), Independencia e Estação Central, onde há várias ruas de comércio de comida, roupa e artesanato em que os vendedores são em sua maioria haitianos.

Pela lei chilena, quando o imigrante consegue um contrato de trabalho, pode pedir visto de residência temporária, mesmo tendo entrado como turista. Isso levou, porém, à criação de uma máfia de vendedores de contratos de trabalho que cobravam para emitir o documento que garantia o visto de residência.

Se em 2015 foram 9.000 os que deram entrada no país, em 2016 esse número saltou para 43.898. Em 2017, até julho já haviam entrado 44.289 haitianos, segundo a última contabilidade do Ministério de Relações Exteriores.

BACHELET

Como o total de haitianos cresce e, desde 2010, só 6% deles deixaram o país, o assunto virou questão política.

No governo de Michelle Bachelet, a chegada dos haitianos se tornou tema de Estado. Entre as promessas da atual mandatária que não se concretizaram por completo estava a de tornar mais ágil a entrada dos haitianos, além de ações para facilitar sua inserção na sociedade e no mercado de trabalho.


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