Folha de S. Paulo


Vice-presidente dos EUA adia viagem para o Oriente Médio

Em meio ao tensionamento das relações americanas com países árabes, o vice-presidente dos Estados Unidos, Mike Pence, decidiu nesta quinta (14) adiar sua viagem ao Oriente Médio, que estava inicialmente programada para este sábado (16).

O embarque do republicano, que irá passar por Egito e Israel, foi remarcado para a próxima terça (19).

Oficialmente, o motivo do adiamento é assegurar a aprovação da reforma tributária do presidente Donald Trump, que ainda precisa passar por uma última votação no Congresso.

Mandel Ngan - 6.dez.2017/AFP
O vice-presidente americano Mike Pence (em pé) ao lado de Trump durante o discurso sobre Jerusalém
O vice-presidente americano Mike Pence (em pé) ao lado de Trump durante o discurso sobre Jerusalém

Considerada prioritária para o governo e prometida por Trump como um "presente de Natal" aos americanos, a reforma ainda depende de uma nova aprovação no Senado, onde a maioria republicana é estreita : são 52 votos contra 48. Pence, que também é o presidente da Casa, pode garantir o voto de minerva em caso de empate.

O voto de Pence se tornou ainda mais relevante depois que um dos principais líderes republicanos, o senador John McCain, foi internado nesta quarta (13) para o tratamento de um câncer —o que coloca em risco a já apertada margem do partido no Congresso.

Um senador já se posicionou contrariamente à medida na primeira votação, e outros, como Marco Rubio, ameaçam votar contra a lei caso não sejam feitas alterações.

"Estamos muito próximos [da aprovação da reforma]", informou a secretária de imprensa de Pence, Alyssa Farah, em comunicado oficial que justificava a decisão. Um oficial da Casa Branca declarou à agência Reuters que não espera que o voto seja necessário, mas prefere evitar um cenário no qual "Pence esteja do outro lado do mundo e tenha que voltar".

JERUSALÉM

O adiamento da viagem, porém, também ocorre em meio a críticas da comunidade internacional à mudança da embaixada americana em Israel de Tel Aviv para Jerusalém, anunciada na semana passada por Trump.

O presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abas, já havia informado que não iria se encontrar com Pence na viagem, em clara retaliação à medida. Os palestinos, que disputam o território da cidade, reivindicam que o lado oriental de Jerusalém seja sua capital.

Pence já tem, no entanto, um encontro marcado com o premiê israelense Binyamin Netanyahu, bem como com o presidente do Egito, Abdel Fattah al-Sisi.

O vice-presidente é evangélico, um eleitorado de grande importância para Trump e para o qual ele também acenou ao reconhecer Jerusalém como capital.

A decisão americana coloca em xeque a capacidade dos Estados Unidos de intermediar negociações de paz entre palestinos e israelenses, já que o país passa a ser visto como um ator parcial, e contraria o entendimento da diplomacia internacional de que a divisão da cidade deveria ser determinada por meio de acordo.

Na ocasião do anúncio, o presidente Trump afirmou que a medida era "nada mais nada menos do que o reconhecimento da realidade".

Líderes árabes reagiram e disseram que a decisão, que reverte uma política externa americana de quase sete décadas, traz "consequências perigosas" e coloca em risco a já frágil estabilidade da região e as possibilidades de um acordo de paz.

O governo Trump tem dito que a decisão de transferir a embaixada a Jerusalém não interfere nas tentativas de mediar um acordo de paz na região —que têm sido conduzidas pelo genro do presidente, Jared Kushner. Segundo Trump, a medida não altera o posicionamento sobre as fronteiras contestadas entre palestinos e israelenses, que ainda devem ser definidas entre os países.

Em nota, a vice-presidência informou que Pence irá "reafirmar o compromisso dos Estados Unidos com seus aliados no Oriente Médio" e conduzir conversações para que os países trabalhem em parceria a fim de combater o radicalismo na região.


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