Folha de S. Paulo


Chile precisa de ar fresco na liderança, diz candidato a presidente

Rodrigo Garrido - 7.dez.2017/Reuters
Alejandro Guillier(esq.) e Sebastián Piñera, os dois canidatos a Presidência do chile
Alejandro Guillier(esq.) e Sebastián Piñera, os dois canidatos a Presidência do chile

Um dos finalistas da eleição presidencial do Chile, cujo segundo turno ocorre no próximo domingo (17), o centro-esquerdista Alejandro Guillier, 64, atribui tanto seu êxito quanto o da esquerdista Beatriz Sánchez (20,2%), ambos novatos na política, a "uma exigência do eleitorado chileno por renovação.

O ex-jornalista e senador Guillier, que disputará o segundo turno com o ex-presidente de centro-direita Sebastián Piñera, teve 22,7% dos votos no primeiro turno, disputado em 19 de novembro. Seu rival, que governou o país de 2010 a 2014, teve 36%.

Já Sánchez teve 20,2% e declarou seu apoio a Guillier, que tem também da atual presidente, Michelle Bachelet.

Piñera aparece dois pontos à frente nas pesquisas mais recentes (40% a 38% na Cadem, dia 1º, e 47% a 45% na Criteria, na véspera), um empate técnico. No primeiro turno, porém, as pesquisas se mostraram imprecisas, sobretudo pela alta abstenção.

Guillier conversou com a Folha por e-mail.

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Folha - Qual é a estratégia do sr. para conquistar os eleitores dos candidatos que ficaram fora do segundo turno?

Alejandro Guillier - A centro-esquerda levou muitos candidatos ao primeiro turno. Ainda que houvesse muita diversidade, em grande parte dos casos, os temas dos programas são comuns e têm a ver com manter as reformas políticas e sociais que foram alcançadas na atual gestão [de Michelle Bachelet] e com continuar avançando para conseguir mais justiça social.

O Chile é o país mais rico da América Latina, mas ainda está em falta com relação a políticas sociais que busquem uma maior igualdade.

A unidade da centro-esquerda vem justamente deste diagnóstico comum que temos do Chile e a necessidade de avançar de modo conjunto.

Houve incômodo da parte do sr. em relação ao apoio de Beatriz Sánchez? [O partido da terceira colocada anunciou que ficaria neutro no segundo turno, e só na última semana a ex-candidata anunciou seu voto "pessoal" em Guillier].

Nunca houve incômodo. Sempre se respeitou o tempo e o ciclo próprio do processo de reflexão da Frente Ampla e de Beatriz Sánchez.

Considero que o apoio que ela nos confirmou na semana passada foi contundente e é importante. Aprecio enormemente, pois é crucial para construir um Chile mais justo.

E no caso do apoio da ex-candidata Carolina Goic (que obteve 5,8% dos votos no primeiro turno), da democracia cristã, foram exigidas condições [pelo apoio] de sua parte?

Agradeço a generosidade de Carolina Goic por ter nos oferecido seu apoio também. Ela me fez uma série de propostas, que nós recolhemos. Entre elas, melhorar nossa agenda para transparência.
Alegra-nos que ela participe, porque traz um grande aporte, sempre se destacou por ser uma colaboradora leal do governo Bachelet, e iremos trabalhar nessa mesma linha, caso eu seja eleito.

Houve alguma mudança nas prioridades do sr. em termos de programa, por causa dos apoios que recebeu? O que o sr. considera serem suas prioridades?

Estivemos sempre dispostos a escutar propostas daqueles que, como nós, buscam maior justiça social para o Chile. Porém, não mudaram as nossas prioridades: reformar o sistema de aposentadorias [que hoje é totalmente privado para uma fórmula mista], a saúde e a segurança. Estes seguem sendo os eixos centrais do nosso programa e de nossa agenda.

Como o sr. interpreta a alta votação a José Antonio Kast [que obteve 7,9% dos votos], um candidato que reivindica a ditadura de Augusto Pinochet [1973-1990]? Como incluir em seu governo seus eleitores?

Identificamos mais o surgimento de novas candidaturas, tanto na centro-esquerda como na direita, como uma exigência dos cidadãos por renovação, tanto nos rostos como nos estilos de fazer política. Não acreditamos que o pinochetismo seja relevante neste momento, mas sim que haja a necessidade de que chegue ar fresco à classe dirigente do país. Nisso, sim, pensamos em colocar o foco em nosso governo.

Os julgamentos dos crimes da ditadura começaram a ocorrer no Chile com algum atraso com relação à Argentina, mas estão muito mais avançados do que no Brasil. Qual será a política do sr. a respeito?

Passaram-se 44 anos do golpe contra o governo de Salvador Allende [1970-1973] e ainda há feridas não curadas. Não avançamos o suficiente no que diz respeito a descobrir o destino dos desaparecidos nem na reparação dos familiares. O Chile precisa da verdade. Enquanto não existir verdade plena para os familiares das vítimas, é muito difícil falar de unidade. A primeira coisa que é preciso esclarecer é o o que ocorreu com todos os que foram presos e desapareceram [3.000 pessoas, segundo estimativas de organizações de direitos humanos].

O país precisa precisa saber o que ocorreu, e não tem sentido a essa altura falar dos acordos de segredo [comuns na época da transição democrática]. Essa espiral de silêncio nos impede de curar as feridas e de construir a reconciliação entre os chilenos.

A Justiça deve seguir avançando, e as Forças Armadas devem colaborar para encontrar até o último dos desaparecidos.

Como o sr. vê a aproximação entre a Aliança do Pacífico [Chile, Colômbia, México e Peru] e o Mercosul [Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai, além da Venezuela, suspensa], que vem sendo impulsionada, principalmente, pelos governos de Bachelet e do argentino Mauricio Macri?

Não apenas a aproximação é positiva como ela é fundamental. É preciso buscar convergência entre a Aliança do Pacífico e o Mercosul, especialmente no que se refere a definir uma estratégia conjunta de aproximação com relação a China, Japão, Coreia do Sul e Ásia de maneira geral.


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