Folha de S. Paulo


Palestinos deveriam voltar a negociar, diz ex-embaixador de Israel nos EUA

Aris Messinis/AFP
Membros da comunidade palestina na Grécia protestam contra decisão de Trump sobre Jerusalém
Membros da comunidade palestina na Grécia protestam contra decisão de Trump sobre Jerusalém

Historiador e especialista na relação EUA-Israel, o deputado israelense Michael Oren, 62, diz acreditar que o reconhecimento de Jerusalém como capital de Israel pelos americanos deve ser encarado como uma oportunidade pelos palestinos.

Para ele, após o gesto em prol de Israel, Trump fica em dívida com os palestinos. O presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas, poderia voltar à negociações com Israel e usar a situação a seu favor.

Nascido nos EUA, Oren renunciou à cidadania americana quando aceitou ser embaixador de Israel em Washington, cargo que ocupou de 2009 a 2013. Ao voltar, ingressou na política pelo partido de centro Kulanu (Todos Nós). Hoje é vice-ministro do Gabinete do premiê Binyamin Netanyahu.

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Folha - Como o sr. vê o anúncio de Trump?

Michael Oren - É imensamente significativo e não só em termos emocionais. Nossa relação com o EUA vai melhorar. Uma fricção perene entre nós tem sido as construções em Jerusalém além da chamada Linha Verde, as fronteiras de antes da Guerra dos Seis (1967), denunciadas no passado por governos americanos com uma linguagem semelhante à condenação de atentados terroristas. Isso vai acabar.

Mas Trump não citou uma "Jerusalém unificada". Assim, não há mudança na política americana de condenar construções israelenses em Jerusalém Oriental...

Certo, mas acho que o reconhecimento da soberania israelense sobre toda a cidade, mesmo que assinalando que as fronteiras finais devem ser negociadas num acordo direto entre as partes, é importante.

E a resposta do presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas, ao anúncio de Trump?

Ele repetiu a retórica de sempre. Abbas é uma tragédia para os palestinos. Ele poderia aproveitar que agora há um presidente americano forte e com credibilidade para conseguir alguma coisa para seu povo. Os palestinos acreditavam muito pouco em Barack Obama (2009-17), mesmo tendo sido o presidente mais pró-palestino da história. Agora é diferente.

O anúncio de Trump não afeta as tentativas de reviver negociações da paz?

Os palestinos se recusam a negociar de verdade há pelo menos oito anos. Eu estava na última rodada de negociações, que durou menos de seis horas até os palestinos deixarem o recinto. Com a equipe de Trump, com passado de negócios e não de diplomacia, é diferente. Quando um dos lados deixa uma negociação, ele paga o preço. É o que aconteceu. Mas acho que eles deveriam voltar à mesa de negociações justamente agora.

Por quê? Qual o incentivo?

Pela minha experiência, os interlocutores respeitam mais mediadores que cumprem o prometido. Por causa do anúncio, Trump terá influência sobre o lado israelense se quiser que façamos concessões. Trump fez algo muito significativo para os israelense e, em vez de condená-lo e queimar retratos dele, poderiam perguntar: "ok, o que você vai fazer por nós agora?". Espero que os palestinos vejam esse anúncio não como ameaça, e sim como oportunidade.

Editoria de Arte/Folhapress

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