Folha de S. Paulo


Fronteira entre Irlandas ainda trava avanço de negociações do 'brexit'

Yves Herman/Reuters
Presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, recebe a premiê Theresa May em Bruxelas

A primeira-ministra do Reino Unido, Theresa May, não conseguiu acertar um acordo para o "brexit", a desfiliação britânica da União Europeia, com negociadores do bloco em Bruxelas nesta segunda-feira (4), apesar de relatos prévios de um entendimento mediante o qual a Irlanda do Norte sob controle britânico continuaria alinhada aos regulamentos da UE.

Os dois lados disseram que devem destravar as conversas sobre futuras relações comerciais nos próximos dias.

"Iremos nos recuperar antes do final da semana, e também estou confiante de que concluiremos isso positivamente", disse May após um almoço com o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, que também expressou confiança na superação dos obstáculos.

Ele insistiu que a reunião, depois de dias de conversas intensas nos bastidores, "não foi um fracasso" e deu crédito a May por aceitar muitos dos termos europeus para a separação.

Os dois se pronunciaram depois que fontes do governo de Dublin disseram que Londres havia concordado em manter a Irlanda do Norte "alinhada" às regras do bloco para evitar uma "fronteira dura" com a Irlanda.

Notícias a esse respeito fizeram a libra esterlina subir devido à esperança de negociações comerciais rápidas, mas também provocaram uma resposta enérgica dos aliados de May na Irlanda do Norte, que exigem receber tratamento igual ao do resto do Reino Unido.

O Partido Unionista Democrático da Irlanda do Norte (DUP) emitiu uma reiteração intransigente de sua recusa em aceitar qualquer "divergência" das regras no bloco britânico.

PREMIÊ DECEPCIONADO

O primeiro-ministro irlandês, Leo Varadkar, cancelou uma coletiva de imprensa, e a libra caiu quando May e Juncker surgiram para declarar que ainda não havia "progresso suficiente" nos termos do divórcio para avançar.

Varadkar declarou mais tarde que ficou surpreso e desapontado com o recuo de May, depois de o governo britânico ter acordado um texto com a UE que evitaria qualquer "fronteira dura" que pudesse pôr em risco a paz na região da fronteira entre as Irlandas, após décadas de violência.

Sublinhando os desafios do "brexit", a ideia de a Irlanda do Norte continuar intimamente ligada ao mercado comum da UE levou à especulação de que, para evitar novas barreiras entre Belfast e Londres, o território continental britânico teria que seguir o exemplo.

Os líderes da Escócia e de Londres, que votaram contra a saída do bloco europeu, exigiram o direito de ter com a UE o mesmo relacionamento que a Irlanda do Norte -mas May descartou tal tratamento diferenciado e a permanência em uma união aduaneira ou no mercado comum.

O anúncio súbito de que não se chegou a nenhum acordo acabou rapidamente com o otimismo que havia se disseminado mais cedo. Fontes do governo irlandês chegaram a dizer que se havia acertado um pacto geral sobre as questões irlandesas.

"A frase-chave é um compromisso claro de manter o alinhamento regulatório em relação às regras da união aduaneira e do mercado interno, que são necessárias para apoiar o Acordo da Sexta-Feira Santa, a economia para toda a ilha e a fronteira", disse uma fonte irlandesa.

Os temores de que uma "fronteira dura" pudesse prejudicar o processo de paz no norte incentivou os dois lados a buscarem soluções.


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