Folha de S. Paulo


Denúncias ligam Odebrecht a líder da oposição e quatro presidentes do Peru

Não faz muito, Carlín, o mais badalado caricaturista peruano, publicou no jornal "La República" um charge que mostrava Jorge Barata, ex-superintendente da Odebrecht no Peru, preparando-se para discursar em um banquete a cuja mesa sentavam-se Alejandro Toledo, Alan García, Ollanta Humala, Keiko Fujimori e Pedro Pablo Kuczynski.

Todos batem as mãos contra a mesa e gritam em coro: "Que no hable/que no hable" (que não fale).

Tarde demais: não só Barata já falou como também o fez seu chefe, Marcelo Odebrecht, do que resultou um cenário de corrupção política ainda mais abrangente do que o apurado pela Lava Jato no Brasil: todos os presidentes peruanos deste século (os que estavam à mesa na charge de Carlín) mais a principal líder opositora, Keiko Fujimori, estão citados como receptores de doações/subornos da construtora brasileira.

Ernesto Benavides/AFP
Peruvian former President Ollanta Humalais is being taken to the judge to get his sentence in Lima on July 13, 2017. Humala and his wife Nadine Heredia were sentenced to 18 months of preventive prison on money laundering and conspiracy charges tied to a corruption scandal involving Brazilian construction giant Odebrecht. / AFP PHOTO / ERNESTO BENAVIDES ORG XMIT: 001
O ex-presidente do Peru OIlanta Humala é conduzido pela polícia à prisão após passar por tribunal

Keiko, aliás, é filha de Alberto Fujimori, que fechou o século passado no cargo de presidente. Ele governou o Peru entre 1990 e 2000 e cumpre pena de 25 anos de prisão por corrupção e crimes contra a humanidade.

É Keiko, aliás, quem fecha o círculo de denúncias: a manchete desta sexta-feira (1) do jornal "La República" reproduz denúncia de Úrsula Letona, deputada da Força Popular, a coalizão fujimorista, segundo a qual "pessoas vinculadas a Marcelo Odebrecht" queriam reunir-se com Keiko para oferecer a ela "US$ 2 milhões (R$ 6,5 milhões) para sua campanha presidencial" (ela perdeu em 2016 para Kuczynski).

A denúncia apenas corrobora o que o próprio Marcelo dissera a procuradores peruanos aos quais depôs no mês passado em Curitiba: deixou claro, então, que não só contribuíra com Keiko antes, como queria fazer um novo aporte.

Keiko reagiu furiosamente, mas a declaração de uma deputada de seu próprio grupo só reforça a suspeita, de resto disseminada no Peru.

Marcelo também informou que a Odebrecht contratara o atual presidente, mais conhecido como PPK, como consultor financeiro, logo que Kuczynski deixou de ser ministro do então presidente Alejandro Toledo (2001-2006).
Kuczynski nega, assim como todos os envolvidos.

Toledo está condenado a 18 meses de prisão preventiva, acusado de tráfico de influência e lavagem de ativos, por ter supostamente recebido um suborno de US$ 20 milhões (R$ 65 milhões) da Odebrecht, para favorecê-la na concorrência para a construção da Rodovia Interoceânica Sul, que une Brasil e Peru.

Como Toledo está nos Estados Unidos, corre pedido de extradição.

Alan García (2006-2011) também aparece, como AG, na delação de Marcelo Odebrecht e, com mais elementos ainda, na apuração da polícia espanhola sobre a intermediação de um banco de Andorra para recebimento de propinas/lavagem de dinheiro.

Segundo minuciosa reportagem de "El País", Miguel Atala Herrera, ex-vice-presidente da estatal "Petróleos del Perú", foi designado pelo gabinete de García para receber US$ 1,3 milhão (R$ 4,2 milhões) da Klienfeld, uma das firmas utilizadas pela Odebrecht para pagar subornos.

O único ex-presidente que está preso, por enquanto, é Ollanta Humala (2011-2016), acusado de lavagem de dinheiro e de associação ilícita. Teria recebido USS$ 3 milhões (R$ 9,8 milhões) da Odebrecht como parte do financiamento da campanha eleitoral de 2011.

Júlio Barata, o ex-representante da firma no Peru, declarou aos procuradores peruanos que recebera ordens de Marcelo Odebrecht para efetuar o pagamento, por solicitação expressa do Partido dos Trabalhadores do Brasil ao então principal executivo da companhia.


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